Festa em meio ao caos
(Tentando jogar) um abacaxi pelos ares. Carta da NAM. King of Stonks: o mix de “Lobo de Wall Street” e “A Grande Aposta” pra contar a maior fraude financeira da história da Alemanha.
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☕ Expresso de Notícias
Curto e sem açúcar
Festa em meio ao caos — existe crescimento no setor automotivo?
Por thiagomd_1
Que o mercado de carros novos anda terrível, todo mundo sabe. Mas que algumas marcas estão conseguindo sobressair em meio ao caos, pouca gente sabe.
Tudo bem que o semestre chegou ao fim com o mercado automotivo respirando por aparelhos.
Foram seis meses de quedas consecutivas nas vendas do setor, quando comparadas ao mesmo mês do ano passado.
Fato é que a crise dos semicondutores foi só a ponta do iceberg, aqui. Se você viu o relatório de Localiza (RENT3) que disponibilizamos na edição passada, com certeza viu que a guerra na Ucrânia piorou bastante as coisas.
Se você não viu, ainda, deveria voltar lá na edição passada e baixar. Mas como sou gente boa, vou passar o resumo aqui.
A Ucrânia é responsável por aproximadamente 70% da produção mundial de néon, gás necessário para a fabricação dos chips. Sem contar que é uma importante produtora de chicotes elétricos. Como se não bastasse, a Rússia ainda é um grande produtor de paládio, material que vai na composição dos catalisadores.
Sem semicondutor não dá pra fazer carro. Mas sem catalisador e chicote elétrico também não dá! Em outras palavras, o que era ruim ficou pior com a guerra.
É natural que com uma tempestade dessas assolando o setor, as coisas não ficassem bem mesmo e as vendas caíssem, como está acontecendo. O problema é que as vendas andam caindo demais e a crise já se arrasta desde 2020!
Eu sei que olhando para o gráfico lá em cima, a gente fica tentado a falar que a retração vem diminuindo mês a mês, o que pode ser um sinal de melhora. Porém, a verdade é que a base de comparação do 2T22/2T21 foi muito ruim.
Pra ficar mais fácil de entender, é como comparar os resultados das vendas nos shoppings em 2022, com os anos de 2020 e 2021, no auge da pandemia, quando ninguém estava saindo de casa. A diferença é que os shoppings já registram ganhos nesse comparativo, enquanto as montadoras nem isso conseguiram.
Como disse o próprio Raphael Galante: “Agora, a conta é saber se a queda nas vendas deste ano será de um ou dois dígitos…”
Mas, em meio ao CTI que virou o setor automotivo, tem gente conseguindo registrar crescimento nas vendas.
Bora ver o top 5!
Em quinto lugar, a Mitsubishi registrou 14,3% de crescimento, principalmente no mercado de picapes. A L200 representou quase 70% das vendas de todos os carros da marca nesse semestre e está carregando o time todo nas costas.
Em quarto lugar, a Toyota fez aquilo que se espera da Toyota e cresceu 15,1% suas vendas. A marca vem investindo forte na eletrificação de seus modelos, com um preço mais acessível que os concorrentes. Além do que o Corolla Cross anda fazendo um baita sucesso.
Na terceira posição, vem a CAOA Cherry, com 22,3% de crescimento. Com 2,2% do market share de carros de alto valor (leia-se SUVs), a marca ressuscitou dos mortos. Principalmente depois de ter iniciado com o pé esquerdo, quando entrou no mercado brasileiro com os famigerados QQ, Face e Cielo.
Falando em ressurreição, no topo do ranking, temos Citroen e Peugeot, com 33,4% e 80,5% de crescimento nas vendas, respectivamente. As duas foram as montadoras que mais cresceram aqui no Brasil, saindo de 27 mil carros em 2020, para 75 mil neste ano.
Ao que parece, a fusão com a galera da Fiat/Jeep, que resultou na criação do Grupo Stellantis fez muito bem às francesas.
Agora, se o setor automotivo virou uma CTI, os médicos que estão mantendo os pacientes vivos são as locadoras. Mas isso é assunto pra outra hora!
(Tentando jogar) um abacaxi pelos ares
Por @guilhermevcz
A WEG (WEGE3) anunciou recentemente o lançamento de seu novo aerogerador de 7 MW.
A plataforma de 4,2 MW — até então a maior produzida pela empresa — tinha foco nas especificidades de vento e condições climáticas brasileiras.
Já o novo aerogerador tem características para atender também a outros mercados. A fabricação dele acontecerá, pelo menos inicialmente, na planta da empresa em Jaraguá do Sul - SC. Com capacidade pra produzir internamente muitos dos componentes usados no equipamento, como geradores, motores, eletrônicos e tintas, a companhia consegue extrair disso vantagens importantes de custos.
Mas, quem já viu nosso relatório sobre a WEG (clique aqui pra garantir o seu), sabe que ela tem planos de fabricar seus aerogeradores na Índia. O país asiático é o 4º maior mercado de energia eólica do mundo. Este novo modelo pode ser justamente o que a empresa estava esperando pra começar, de vez, a produzir suas turbinas eólicas no exterior.
Quem já viu o relatório sabe também que, apesar da notícia ser boa, ela não é lá tããão animadora assim. Primeiro porque esse foi só um “anúncio” mesmo. O protótipo do aerogerador de 7 MW deve entrar em operação em 2024. Passando nos testes, a fabricação comercial será só em 2025.
Olhando as notícias por aí, você vai ver manchetes afirmando que, com esse aerogerador, a WEG está investindo no que se tornará a “maior máquina em operação no mercado brasileiro”.
Bom, isso não passa de uma expectativa da empresa. Falta combinar com os concorrentes. Não à toa, o título do Abacaxi do nosso relatório é “Briga de cachorro grande”. Afinal, como a WEG vai saber o que elas estarão vendendo por aqui em 2025?
A Siemens Gamesa, por exemplo, já conta, desde maio, com um aerogerador de 6,2 MW em operação no Brasil. Pra esse modelo, a empresa tem contratos de fornecimento com a Engie (EGIE3) — mais um relatório na faixa pra você aqui — e a Essentia Energia, do Pátria (NASDAQ: PAX).
Como já comentamos em edições anteriores do Diário (Festa em alto-mar e The answer is blowin’ in the wind?), o Brasil vem cada vez mais flertando com a possibilidade de liberar a geração de energia eólica offshore por aqui.
A Siemens Gamesa diz que consegue aplicar sua turbina de 6,2 MW em projetos offshore pequenos, mas salienta que na Europa, pra entrar em campo — ou na água, melhor dizendo — o jogo de verdade é com máquinas de 14 MW.
A WEG tem tido bons resultados no seu segmento de GTD - Geração, Transmissão e Distribuição e os aerogeradores são um dos principais motivos pra isso. Mas se ela quiser continuar crescendo, principalmente no exterior, até quando a estratégia de correr atrás dos lançamentos dos competidores vai funcionar?
Fala, Dudu! 😎
Sua carta sátira semanal do gestor do primeiro hedge fund de Niterói
Carta da NAM
Koé, família!
Dudu, seu parceiro, aqui dando a letra!
Semana passada foi tão corrida que ela meteu um 100 metros rasos! Nada que não dê pra superar, né?
Essa é a carta semanal do Nikiti Asset Management, o NAM! Bora lá?
EU VEJO GENTE MORTA – Na vida, existem 3 certezas: a morte, a cagada de um estagiário e que a Argentina vai dar calote em sua dívida. No sábado, dia 09/07, el presidente hermano, Alberto Fernández, disse que seu governo vem "suportando uma investida da elite poderosa que quer ficar com toda a renda, provocar uma desvalorização do peso e maximizar seus lucros com a cobiça de sempre".
Bem, se ele tá vendo essa elite, provavelmente ele também está vendo o personagem do Bruce Willis em “O Sexto Sentido”, que era um fantasma. 😂
Agora, ver de pagar a dívida externa que é bom, nada…
CHIP DA VIVO, DA TIM E DA OOOOOOI – Na quarta passada, dia 06/07, o 5G começou a funcionar no Distrito Federal, a primeira capital brasileira a ter esse sinal. Se você está em Brasília e tomou a vacina, entre em contato com a sua operadora para que o seu chip funcione e você possa falar com o ET Bilu.
VOCÊ ACHOU QUE O PAÍS IRIA ARRUMAR O FISCAL? – Na segunda, dia 11/07, saiu uma entrevista do meu conterrâneo Rogério Xavier, gestor do fundo SPX, no Brazil Journal. Nesse papo, ele fala que o país não aproveita as oportunidades para fortalecer a posição fiscal. Ele ainda compara o país com aquele seu cunhado que vive endividado com cartão pois “ganha um dinheiro, vai lá e gasta ainda mais. Como assim?”
Sobre essas aspas poderosíssimas do meu padrin, eu irei apenas citar um dos maiores filósofos contemporâneos e xará desse gestor, Rogerinho do Ingá (personagem do Choque de Cultura):
— Tá certa a indignação!
JOGUEM ARROZ NOS NOIVOS – Dizem que o segundo casamento é o triunfo da esperança sobre a experiência. O Itaú casou com a XP em 2017 e os dois assinaram seu divórcio (pouco amistoso e com lavagem pública de roupa suja) 4 anos depois.
Na semana passada, o Itaú anunciou seu novo casamento. Dessa vez, com a Avenue, uma corretora brasileira que faz o meio de campo pra você investir diretamente nos EUA. A esperança pra esse casamento mora na chance desse mercado de investimentos lá fora se multiplicar por 10 nos próximos anos.
O maior banco privado da América Latina tá “casando” R$ 493 milhões para ter o controle da Avenue. Mais uma constatação de que casar realmente é caro...
FALA DELA – No início do mês, perguntei ao estagiário Marquin o que ele via de bom no IBOV. Ele entendeu errado e comprou 1000 lotes da VIIA3, a Via Varejo. De forma surpreendente, ele “acertou errando” e a ação está valorizando mais de 20% até agora.
Como recompensa, promovi ele ao cargo de Estagiário 2, onde basicamente ele recebe o mesmo salário, porém trabalha por 2. Parabéns, menor!
FALOU MUITO – Na semana passada, deu a lógica! O bilionário falastrão Elon Musk anunciou que estava desistindo da compra do Twitter (TWTR34), após causar um mega alvoroço pra tentar comprá-lo.
É claro que em casos em que não se gera tanta receita, talvez um passarinho na mão não seja melhor que dois voando...
Maaaas, já diziam os Originais do Samba, “falador passa mal, rapaz”... O acordo inicial da compra da empresa previa que, se o excêntrico bilionário quebrasse o contrato, teria que pagar uma multa de US$ 1 bilhão. Ou seja, essa novela não acaba tão cedo!
E é isso, galera!
Bebam água (de qualquer tipo) e bora produzir que os estagiários não recebem demanda sozinhos!
Abs e bons negócios🤝
📜Histórias de Mercado
Não se repetem, mas rimam.
King of Stonks: o mix de “Lobo de Wall Street” e “A Grande Aposta” pra contar a maior fraude financeira da história da Alemanha
Por @guilhermevcz
Nos anos 2000, uma fintech alemã começou a faturar oferecendo seus serviços a negócios que outras empresas de pagamentos online costumavam evitar: sites de pornografia e apostas.
Com menos de 5 anos de operação, a startup foi listada na Bolsa de Frankfurt e passou a emitir cartões de crédito com as bandeiras da Visa e da Mastercard.
Em 2008, entretanto, dúvidas quanto aos demonstrativos financeiros da empresa começaram a surgir. A Wirecard então contratou a EY, uma das Big Four do setor, pra fazer sua auditoria.
O resultado: ela saiu ilesa.
Com a moral lá no alto, a companhia captou 500 milhões de euros e começou a expandir internacionalmente, fazendo uma série de aquisições pela Ásia.
A estratégia da Wirecard era comprar pequenas empresas de pagamento: as adquirentes comerciais. São elas que fornecem as maquininhas de cartões aos varejistas — o mesmo business da Cielo (CIEL3).
Em 2015, entretanto, a Wirecard decidiu subir pra categoria peso-pesado. Ela comprou uma empresa de pagamentos indiana por 340 milhões de euros.
O valor chamou ainda mais a atenção dos analistas que já tinham um pé atrás com a empresa. A suspeita era de um esquema de lavagem de dinheiro. Para eles, a Wirecard falsificava seus resultados por meio da aquisição com sobrepreço de empresas. O dinheiro da compra era destinado a partes relacionadas e, então, devolvido pra Wirecard.
Mesmo com vários críticos alertando sobre o iminente perigo da companhia, suas ações continuaram se valorizando. A euforia reinava: ninguém queria ficar de fora do que prometia ser a maior força europeia contra o Vale do Silício.
Em 2018, o ápice: a Wirecard entrou no Índice DAX (o Ibovespa alemão), tomando o lugar do Commerzbank, o segundo maior banco do país.
A empresa havia se tornado uma sensação.
Seu valor de mercado chegou até mesmo a igualar o do Deutsche Bank, o principal banco do país. Mas a igualdade parava por aí: a receita e o número de funcionários da Wirecard eram 15x menores.
A Bafin, a CVM da Alemanha, foi notificada várias vezes sobre as possíveis irregularidades da empresa. Mas até ela tomou partido. O órgão apresentou uma queixa criminal contra vários short sellers e até mesmo jornalistas do Financial Times, quando a Wirecard disse que as denúncias eram feitas apenas pra reduzir o preço de suas ações.
O CEO da Wirecard, Markus Braun, virou palestrante em praticamente todas as conferências de tecnologia, sendo aclamado como herói, rock star e gênio. Nesse ponto, ele começou até mesmo a usar gola preta alta no tradicional estilo Steve Jobs.
Braun promovia a ideia de uma sociedade totalmente sem dinheiro físico e profetizava que todos os pagamentos de varejo seriam digitais dentro de uma década.
Os relatos de suspeita de irregularidades foram empilhados até 2020, quando a empresa atrasou a divulgação de seus resultados do ano anterior feita pela EY. A Wirecard decidiu chamar a KPMG pra fazer sua auditoria.
E aí o castelo de cartas começou a ruir.
Em abril de 2020, a KMPG informou que não conseguiu encontrar a existência de 1 bilhão de euros em receita que a Wirecard havia registrado através de 3 de seus “parceiros” adquirentes.
Os reguladores financeiros alemães enfim acordaram pra vida.
Em 5 de junho, promotores botaram o pé na porta da Wirecard, invadindo a sede da empresa e abrindo processos contra a administração pela divulgação de informações enganosas. 11 dias depois, o Bank of the Philippine Islands e o Banco de Oro Unibank informaram que os documentos que a Wirecard usava pra indicar que possuía depósitos com eles eram falsos.
Nesse dia, as ações da empresa evaporaram: elas passaram de 104,5 euros pra 2 euros. A maior queda da na história da bolsa alemã em um só dia.
Troque Wirecard pelo nome fictício “CableCash”, Steve Jobs por Elon Musk e você tem o pano de fundo da minissérie King of Stonks que estreou semana passada na Netflix.
Essa é mais uma produção sobre startups que ganha espaço nos streamings. Além dela, só no primeiro semestre de 2022, apareceram a WeCrashed, sobre o WeWork, e a Super Pumped, sobre o Uber.
Comum entre as três, não só nas séries, mas na vida real, está a figura de um CEO quase messiânico comandando a empresa.
Porém, agora, com a inflação à tona e a subida de juros ao redor do mundo, o dinheiro secou e a genialidade de muitos empreendedores visionários foi colocada à prova.
Se você já acompanha o mercado há um tempo, não há grandes novidades quanto às lições que dá pra gente tirar daqui, mas fica o reforço. Simplesmente tome cuidado com a “ação da vez” — já que tão rápido quanto ela subiu ela pode cair — e não se iluda quando o valor de uma ação está diretamente ligado àquele que é o “rosto da empresa”.
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Leia agora, leve pra vida.
"… the essence of writing is rewriting. Just because they're writing fluently, doesn't mean they're writing well." — William Zinsser
“A inteligência e a sabedoria não são atributos automáticos dos devoradores de livros. Conhecer o mundo, seja através da literatura, da arte ou do saber científico, nos proporciona mais repertório intelectual e um saber menos dependente das opiniões alheias. Porém, tudo isso é um meio, e não a linha de chegada.
Alguém que está aberto ao conhecimento — mesmo que seu repertório seja incipiente — é uma pessoa que exerce mais a vida intelectual do que aquele que, embora tenha lido montanhas de livros, se fechou ao novo e se deixou seduzir pela vaidade de ser culto.” @mariacamilamoura
Por hoje é só pessoal 🤙
Bebam café, se hidratem e não deixem dinheiro guardado na China!
Boa semana e bons negócios!
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Editado por guilhermevcz e thiagomd_1.