Festa em alto-mar
Um setor amassado pela inflação; Nova Ordem Mundial?; Um conto de fadas; Mudança de pilotos (ou CEOs) e uma história pra comemorar o primeiro GP do Ano na F1
Sextou. E pra deixar sua sexta-feira mais feliz, trouxemos de volta a lendária Newsletter escrita diretamente pelo Warren Buffett e Charlie Munger time do Edufinance: o Diário de Omaha.
Aqui, escrevemos tudo o que nós queríamos ler, mas não encontrávamos em lugar nenhum:
A visão de como as 📰 notícias impactam as empresas
Curadoria de 📃 Artigos, 📚 Livros, 🎙 Podcasts e 📜 Cartas de Gestores
Presentes exclusivos pros assinantes 🎁 (vamos explicar em um próximo Diário).
Conteúdo atemporal, que você ainda vai lembrar daqui a 10 anos (afinal, ninguém aguenta mais o bombardeio de informações superficiais e passageiras)
Tudo isso com aquela linguagem simples, do dia a dia. Porque quem tem pressa não tem tempo pra formalidades ✌.
A partir de hoje, o 🗞 Diário de Omaha chegará pra você toda sexta-feira.
Se você não quiser receber, é só clicar em "Unsubscribe” (ou algo assim), lá no final. De qualquer forma, eu não faria isso se fosse você. Afinal, não é todo dia que você recebe uma carta direto de Omaha.
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☕ Expresso de Notícias
Curto e sem açúcar.
Energia & Indústria
Festa em alto-mar regada a hidrogênio — quem vai ficar de fora?
O CEO da Neoenergia (NEOE3), Mário Ruiz-Tagle, previu essa semana que o Brasil poderá ter suas primeiras usinas de energia éolica offshore (em alto-mar) em menos de 5 anos. O motivo pra isso é a guerra entre Rússia e Ucrânia — que deve acelerar ainda mais os projetos de transição energética — e a posição de destaque que o Brasil passa a ocupar para a Europa.
O velho continente acordou pra importância da não-dependência energética, não só de um outro país, mas também de apenas uma fonte de geração de energia. E olha que o tema não ficou só na conversa, ele já foi pro papel, caneta e o mais importante: 💸
O Banco Europeu de Investimento – BEI assinou um empréstimo de € 200 milhões (aproximadamente R$ 1,1 bilhão) pra financiar dois projetos de energia eólica terrestre e um de geração solar no Nordeste — já em desenvolvimento — da Neoenergia.
Mas onde entra a eólica offshore nisso? A Neoenergia está fazendo estudos de medição de vento pra desenvolver projetos eólicos na costa do Ceará, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Mas não para por aí: a energia eólica offshore é também uma importante fonte de energia pra produção do hidrogênio verde — que é uma das formas de combustível mais cotadas pra reduzir emissões no transporte — além de ser também uma aposta da Neonergia. A empresa já possui um acordo pra desenvolver projetos de hidrogênio verde com o Estado do Ceará e negocia com o Rio Grande do Sul e a Bahia.
E a Europa? O Brasil é um dos países com os menores custos de produção do hidrogênio verde do mundo, junto com Chile e Austrália, e, por isso, pode se tornar um dos maiores exportadores do combustível para o velho continente.
Claro que não é só a Neonergia e as produtoras de energia que podem ganhar com a eólica offshore. Na bolsa, temos as empresas que produzem peças e equipamentos que formam as turbinas eólicas — os aerogeradores pros mais chegados —: a Aeris (AERI3), a Romi (ROMI3) e a Weg (WEGE3).
Porém, quem já viu a aula “A Corrida Espacial Eólica” do VBox da Weg, tá com o desconfiômetro bem ligado e sabe que não vai ser tão fácil assim pra empresa participar da festa lá em alto-mar...
Varejo & Construção Civil
Não quero-quero inflação!
É, o mercado anda passando por um momento complicado. Todo o quarto trimestre de 2021 (na verdade quase todo o ano) foi bem conturbado. As taxas de juros subindo, inflação batendo na porta do consumidor e o poder de compra diminuindo drasticamente. Diante desse cenário, todo o varejo sofre, afinal, o consumo, que é o ponto que move o varejo, diminui bastante. Entretanto, alguns setores do varejo apanham mais do que outros.
O varejo de materiais de construção é um exemplo real disso. É como se ele tivesse um beta alto no Valuation. Dá pra se dizer que, tudo que acontece, tem praticamente um impacto dobrado nesse setor. Ele é muito dependente da economia como um todo. Ninguém constrói sem dinheiro no bolso, as taxas de juros impactam muito a demanda e o preço das matérias primas, também. Com esses fatores, é difícil esperar um resultado absurdo das empresas do setor, mas parece que o mercado estava sim esperando algo monstruoso da Quero-Quero (LJQQ3). No último mês, as ações já apresentam uma queda acumulada de mais de 20% (13% só no dia seguinte da divulgação de resultados).
O Lucro Líquido teve uma queda de 28%. É coisa pra caramba pra uma varejista. Mas vocês pararam pra pensar o porquê disso ter acontecido? Eu me questionei bastante e resolvi desvendar esse mistério.
Ao medirmos a relação entre o CPV (Custo dos Produtos Vendidos) sobre a Receita Líquida, vemos um aumento de 2% em relação a 2020, com a métrica saindo de 59%, em 2020, para 61%, em 2021. Parece pouco, né? Mas pra uma varejista que trabalha com margens bem exprimidas, esse valor é MUITO relevante. Um aumento de 2% nessa relação corresponde a aproximadamente R$ 40 milhões de lucro a menos no ano.
É exatamente por esse aumento no CPV, ou seja, no custo dos produtos, que foi causado pela inflação, que a empresa apresentou resultados bem abaixo do esperado. Caso os preços das mercadorias tivessem se mantido estáveis no último ano, o Lucro da empresa passaria dos R$ 100 milhões e não ficaria em pouco mais de R$ 65 milhões.
Fique de 👀 bem abertos com a construção civil e suas ramificações!
Internacional
Estamos diante de uma nova ordem mundial?
É sobre isso que Roberto Atuchi Jr. falou recentemente, de forma bem intrigante. No texto, ele faz reflexões sobre como a guerra da Ucrânia pode mexer com a atual polarização geopolítica mundial.
É fato que, desde o final da Guerra Fria, o mundo é unipolar (EUA), mas parece que a China acordou para a possibilidade de ressuscitar a ordem bipolar existente após a Segunda Guerra Mundial.
A guerra econômica travada entre EUA e Rússia, com apoio das grandes potências mundiais, pode ter servido para estreitar os laços entre China e Rússia. Além disso, a utilização do dólar nessa guerra, como arma financeira, pode ter colocado uma pulga atrás da orelha da China. Não à toa, ela está tentando viabilizar a compra de petróleo dos Emirados Árabes e da Arábia Saudita com pagamento em Yuan.
Será que a China vai tentar transformar o Yuan em moeda de reserva no oriente?Aguardemos as próximas cenas…
🍷 Sommelier
Consumimos de tudo. Trazemos o que importa.
📜 Cartas dos Gestores
A última carta da Trígono explora uma fábula pra ilustrar o momento atual do Brasil sob influência da guerra entre Rússia e Ucrânia.
O Brasil é a princesa, que corteja seus investidores. Estes, por sua vez, são o sapo, que acreditam nela. Como a princesa, o Brasil promete e promete e não entrega o prometido. No caso do Brasil, a história, no entanto, tem um “plot twist”, como dizem os roteiristas.
Os investidores (o sapo) acreditaram e fizeram sua parte: alocaram recursos na “boa ação” (foram ao lago buscar a bola de ouro), trazendo recursos para o país, investindo em boas empresas (suas ações). Isso faria a performance do mercado como um todo melhorar. No limite, manteria os investidores locais interessados no mercado de renda variável.
A Princesa (o Brasil – no caso, os investidores locais), no entanto, preferiu não esperar que o sapo cumprisse sua parte, e foi buscar outra bola. Ou seja: os investidores daqui correram a renda fixa (e às favas com o vestido limpinho). Sacrificaram o mercado de renda variável.
Como em toda fábula, há uma moral da história. No nosso caso, a moral é: cumpra promessas.
🎃 Off-topic
Nem só de mercado vive o homem.
Ontem à noite, saiu a notícia de que o Grupo Pão de Açúcar trocou seu principal piloto! O CEO, Jorge Faiçal, saiu e no lugar dele colocaram Marcelo Pimentel, que era quem dirigia a Marisa.
Lá no VBox, a gente conta toda a história da empresa e do homem que transformou o GPA num colosso: Abílio Diniz. O que muita gente não sabe é que o filho de Abílio, Pedro Paulo, fez uma carreira automobilística de respeito, pilotando por alguns anos na Fórmula 1. Pra comemorar o primeiro grande prêmio do ano, nós vamos contar a curiosa trajetória de Pedro pelas pistas. Se prepara que lá vem história!
Pedro Paulo começou sua carreira bem atrasado, andando de kart pela primeira vez aos 17 anos — hoje em dia o normal é entre 4 e 7 anos —, mas passou na frente dos outros pilotos com seu decente talento e com a grana do pai. Ganhou experiência em categorias de base como Fórmula Ford, Fórmula 3 e F3000 sem ter ganho nenhuma corrida 😢.
Mesmo assim, conseguiu chegar no nível mais alto do automobilismo na temporada 1995, 8 anos depois de ter estreado no kart. Na verdade, caso as regras atuais estivessem em vigor, o filho de Abílio nem poderia tirar a carteira de piloto de F1 - sim, você precisa de uma carteira especial pra pilotar na F1. Ela tem o nome de superlicença -, dados os resultados fracos nas divisões de acesso.
A estreia do brasileiro foi pela equipe italiana Forti. O time havia sido fundado por Guido Forti e tinha criado uma história bem legal nas categorias de base. Em 1993, o empresário de Pedro comprou uma fatia da escuderia em troca de um assento para o jovem na F3000. Dois anos depois, a Forti resolveu dar um salto e levar a equipe para F1. Diniz foi junto, é claro.
Toda a estratégia do time dependia completamente do herdeiro do GPA. Com o famoso "paitrocínio", a escuderia conseguiu um orçamento razoável, 17 milhões de dólares 🤑. Na verdade, o dinheiro não vinha diretamente do Pão de Açúcar ou de Abílio, mas sim de fornecedores da varejista. De acordo com Pedro, seu pai não botou um centavo na Forti, mas foi importante em abrir as portas para patrocinadores.
Abriu tão bem as portas que marcas como Parmalat, Kaiser, Arisco e Sadia estamparam seus logotipos na carroceria do FG01, o modelo da equipe para 1995. O outro piloto da equipe era Roberto Pupo Moreno, experiente piloto brazuca. As cores do carro eram amarelo e azul, com detalhes em verde. Era uma equipe italiana com alma brasileira.
Chamar o FG01 de carro de F1 é até enganoso. O bólido da Forti pra 1995 tinha um péssimo projeto aerodinâmico, o motor Ford era antigo e ruim, a carroceria era muito pesada e era o único do grid que tinha câmbio manual. Pra se ter ideia, na estreia da temporada em Interlagos, Pedro terminou sete voltas atrás do vencedor Michael Schumacher. Na segunda corrida na Argentina, os dois pilotos da equipe terminaram nove voltas depois do líder.
A imprensa e os fãs não perdoaram e deram o carinhoso apelido de tartaruga amarela pro FG01. Tá bom que o carro até evoluiu durante o ano pois a equipe tinha bastante dinheiro, mas mesmo assim continuou tenebroso. Pelas regras de classificação para um Grande Prêmio vigentes a partir do ano seguinte, a equipe italiana só teria se classificado para a última corrida e somente com o carro de Moreno.
Pra 1996, Diniz levou seu caminhão de dinheiro para a Ligier e a Forti acabou falindo. Na equipe francesa, que tinha um carro bem melhor, Pedro melhorou seu desempenho. Abocanhou dois sextos lugares, levando para casa seus primeiros dois pontos na F1 🏆. Ainda assim, ficou atrás do seu companheiro de equipe Olivier Panis, vencedor de uma das corridas mais malucas da história da F1: o GP de Mônaco daquele ano.
Em 1997, Diniz mudou de novo de equipe, dessa vez para a britânica Arrows, carregando para a terra da rainha seus agora US$ 13 milhões em paitrocínios 💰. Seu companheiro de equipe era nada mais nada menos que Damon Hill, o campeão mundial do ano anterior. Pedro repetiu os dois pontos de 1996 com um 5º lugar no GP de Luxemburgo, mas quem riu por último foi Damon com seus sete pontos.
No ano seguinte, ele continuou na Arrows e conseguiu igualar seu melhor resultado na F1, com um quinto lugar no insano GP da Bélgica. Terminou a temporada com três pontos, mesmo número de pontos que Mika Salo, o outro piloto do time.
Pra 1999, mais uma mudança: dessa vez pra suíça Sauber, onde teve seu melhor ano. Com três sextos lugares, ele marcou três pontos e ficou à frente do seu colega Jean Alesi, ex-piloto da Ferrari que só conseguiu dois. Apesar disso, Diniz se aposentou das pistas ao fim da temporada seguinte, na qual nem chegou a pontuar pela equipe suíça 🏁.
Ainda em 2000, Pedro comprou 38% da Prost, equipe comandada por Alain Prost, arquirrival de Ayrton Senna. Acabou que não deu nem um pouco certo! O herdeiro de Abílio logo se desentendeu com o francês e abandonou a equipe.
Depois da F1, ele passou pelo Comitê de Sustentabilidade do GPA e, hoje, Pedro comanda a maior fazenda de ovos orgânicos da América Latina — a Fazenda da Toca. É dono também da Rizoma Agro, de agricultura regenerativa e faz parte do board da Península Participações — o veículo de investimentos da família Diniz — além de outras empresas.
⏳ Atemporalidades
Leia agora, leve pra vida.
The time that leads to mastery is dependent on the intensity of our focus. @RobertGreene
Predict your future by projecting your habits. @EricJorgenson
Por hoje é só pessoal 🤙
Boa semana a todos e bons negócios!