Os 3 Verdadeiros Fatores da Vantagem Competitiva
Carros voadores cada vez mais próximos? 'E o drama? Acabou?'. Investimento em Valor: de Graham a Buffet e Além. Questões são chaves & Conflito vs Consenso.
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Tech
Carros voadores cada vez mais próximos?🤔
A Eve é a filha da Embraer (EMBR3) voltada para a mobilidade aérea urbana. Na prática, o produto da empresa é o eVTOL (veículo elétrico de decolagem e pouso vertical) — ou, simplesmente, carro voador, como alguns apelidaram.
Você pode se perguntar: qual a diferença disso pra um “helicóptero elétrico”?
A diferença mesmo está no número de hélices, que no “carro voador” é maior, e no barulho, que nesse caso é menor. O eVTOL, em questão, terá capacidade pra 4 passageiros.
Mas por que estamos falando disso agora?
A Eve soltou hoje uma atualização sobre seus negócios numa prévia à sua fusão com o SPAC Zanite Acquisition (NASDAQ: ZNTE). [Há muito tempo comentamos por aqui dos SPACs, se você não sabe o que é isso, corra aqui nesta edição do Diário de Omaha].
Depois da fusão, que deve acontecer em maio, a empresa será listada na NYSE com os tickers EVEX e EVEXW.
Voltemos ao que importa agora, os números:
A carteira de pedidos da empresa conta com 1.825 unidades, partindo de 19 clientes. Entre eles, estão operadoras de aviões (asa fixa), de helicópteros, plataformas de compartilhamento e empresas de leasing (que fazem o aluguel de aeronaves).
Cada eVTOL deve sair na faixa de US$ 3 milhões. Ou seja, quase dá pra dizer que a empresa já nasce com uma receita contratada de US$ 5,3 bilhões. Porque, na realidade, todos os pedidos partiram de cartas de intenção não vinculantes (tirando o juridiquês, isso quer dizer que não há obrigação, de fato, entre comprador e vendedor de realizar a transação).
Mas um ponto interessante disso tudo é que o negócio da Eve está avaliado em US$ 2,4 bilhões. Enquanto isso, a Embraer, que reportou resultado essa semana, anda valendo perto dos US$ 2 bilhões.
A fusão pode até sair em breve, mas os carros mesmo só veremos voando lá em 2026.
Internacional
E o drama? Acabou?
Finalmente, a novela mexicana que virou a aquisição do Twitter parece ter chegado ao fim. Na segunda-feira, o Conselho da empresa aceitou a proposta de Elon Musk, de compra das ações da companhia por $ 54,20, totalizando $ 44 bilhões.
Se você acompanha nossa newsletter, na semana passada deve ter visto que rolou até uma poison pill pra tentar impedir o homem mais rico do mundo de comprar a rede social. Mas, agora pro board da empresa, as desavenças com relação ao preço parecem ter ficado para trás e o prêmio pago por Musk foi considerado substancial.
A pergunta que fica é: como Elon vai pagar por tudo isso?
$ 21 bilhões em dinheiro, que ele próprio diz ter, possivelmente provenientes de vendas de parte de suas ações da Tesla, realizadas no segundo semestre do ano passado. O restante, virá de empréstimos: aproximadamente $ 12 bilhões garantidos com ativos do próprio Twitter (de bancos liderados pelo Morgan Stanley), mais um empréstimo pessoal de Musk, com garantia de $ 60 bilhões em ações da Tesla (baita garantia).
Apesar da dificuldade inicial que o bilionário enfrentou, com algumas tentativas frustradas para conseguir financiamento, ao que parece, agora o negócio anda. Até porque, se não andar, a parte que der causa ao descumprimento do deal fica obrigada a pagar a outra parte uma multa de $ 1 bilhão.
Quem pode ficar feliz nisso tudo, é o acionista do Twitter, que viu suas ações subirem quase 40% desde a primeira aquisição feita por Elon.
Querendo ou não, essa compra feita por ele fez mais pelo preço das ações do que a gestão da empresa veio fazendo durante todos esses anos.
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Investimento em Valor - De Graham a Buffet e Além
Bruce Greenwald foi diretor-fundador da Heilbrunn Center for Graham and Dodd Investing na Columbia Business School. Por anos ministrou aulas sobre investimento em valor e economia da estratégia de negócios e globalização.
Nesse livro ele traz um método de avaliação do valor intrínseco de uma empresa, que segundo ele, vai garantir que você esteja no lado certo da negociação, quando estiver comprando ou vendendo uma ação na bolsa de valores.
O objetivo de Greewald é avaliar a empresa pelo que ela vale, considerando para isso o balanço patrimonial, o poder dos lucros gerados pelo fluxo de caixa livre da empresa e, em alguns casos específicos, o crescimento.
Em suma, ele quer comparar o valor dos ativos líquidos de uma empresa, com aquilo que esses ativos geram de caixa na perpetuidade sem tentar adivinhar o crescimento da empresa.
Por isso, essa geração de caixa é jogada em uma fórmula de perpetuidade, sem crescimento. A isso, ele dá o nome de poder dos lucros. Daí, é só comparar esses valores com o valor de mercado da empresas, em busca de barganhas. Fácil, né? Em teoria, até que sim.
Claro que Bruce vai além e faz a comparação entre o valor dos ativos e o poder dos lucros para identificar verdadeiras empresas de franquia, ou aquelas raras empresas que geram valor ao acionista. Mas aqui a coisa fica complexa e pela falta de espaço, é melhor você conferir direto no livro.
Vale ficar atento ao que ele fala sobre vantagens competitivas, afinal ele tenta destrinchar a essência do que são realmente vantagens e do que não são.
Só uma dica: esse é um livro para iniciados. Se você ainda não estiver afiado no assunto, talvez seja melhor adiar um pouco a leitura e buscar conteúdos mais introdutórios sobre avaliação de empresa.
📰 Artigos
Os 3 Verdadeiros Fatores da Vantagem Competitiva
Na esteira da nossa indicação de livro da semana, esse artigo publicado pelo professor Greenwald na Havard Business Review, apesar de antigo, faz uma excelente incursão mais detalhada no que o professor pensa sobre vantagens competitivas reais de um negócio.
Para Greenwald, um negócio com verdadeiras vantagens competitivas (moat) deve apresentar três fatores distintos: clientes cativos, tecnologia proprietária e economia de escala.
1 - Clientes Cativos
A primeira delas diz respeito a um acesso melhor e mais amplo a clientes, tornando-os cativos, essencialmente. Pra deixar mais claro esse fator, basta imaginar o consumidor de Coca-Cola e o consumidor de cerveja, cuja cerveja favorita seja a Heineken, por exemplo. Quando esses consumidores vão a um restaurante mexicano, chinês ou indiano, é bem mais provável que o consumidor de cerveja troque sua bebida e experimente uma bebida local. Afinal, é raro encontramos alguém que não beba marcas variadas de cerveja.
Já o consumidor de Coca-Cola vai beber Coca em todos os lugares que for. É bem mais difícil que esse consumidor vá querer trocar seu refrigerante preferido por um refrigerante local. Isso é tão verdade, que uma campanha conhecida da Pepsi, no Brasil, tentou incutir no consumidor essa fungibilidade entre marcas, com o famoso jargão: Só tem Pepsi, pode ser? Não, não pode ser!😂
Outro exemplo efetivo de clientes cativos, são aqueles cativados pelos altos custos de troca (switching costs) do produto ou serviço. Em outras palavras: se custa dinheiro, tempo e esforço para um cliente mudar de um fornecedor para outro, os operadores históricos têm uma vantagem sobre os concorrentes. Empresas de software de controle e gestão como a SAP, possuem um alto grau de fidelidade dos clientes, simplesmente porque trocar o sistema por outro é muito caro e trabalhoso.
Uma empresa brasileira que faz isso muito bem, é a JSL (JSLG3), com seus serviços de logística dedicada. Os serviços são tão personalizados, que em alguns casos a JSL chega a colher a safra do cliente, por ele, pra depois fazer todo o serviço de distribuição do produto. Pra você ter uma ideia, a média de tempo de contrato desses clientes com a JSL é de 25 anos. Isso nos leva ao próximo fator:
2 - Tecnologia Proprietária
A tecnologia proprietária não se limita somente a um avanço tecnológico criado pela empresa e não acessado por outras, mas também a capacidade dessa empresa em renovar essa tecnologia investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Patentes, tecnologia e know-how são o primeiro passo, aqui. O segundo é a capacidade de renovar as patentes e tecnologia disponível, com novos produtos e novas tecnologias, que garantam que os clientes cativos continuem cativos.
A partir do momento que os softwares da SAP deixarem de trazer beneficio econômico para o cliente, ele vai ser trocado. Afinal o custo da troca vai cair e fazer compensar essa troca, caso o concorrente traga maior economia na gestão dos processos internos da empresa. Por isso a SAP sempre vai ter que correr atrás de atualizações e inovações, que consigam manter o beneficio gerado em páreo com os concorrentes. Só assim, por consequência, ela vai conseguir manter o custo de troca do sistema alto.
Outra empresa que faz isso muito bem é a TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company). Ela desponta na frente da concorrência fazendo os menores chips do mundo. São tão pequenos, que a concorrência não consegue a acompanhar e a TSMC, em vez de se acomodar, continua diminuindo seus chips. Você pode ver com mais detalhes sobre isso em uma edição passada do Diário de Omaha indo até o título Como cavar um fosso na era das Big Tech.
3 - Economia de Escala
Para a empresa se beneficiar por mais tempo dos outros dois fatores acima, ela precisa escalar seus serviços ou produtos. Essa escala vai propiciar menor custo e acesso mais amplo aos clientes, criando, muitas vezes, um efeito rede.
Pense no caso da Microsoft, por exemplo. O sistema Office é utilizado amplamente no mundo inteiro, com arquivos do Word ou do Excel trocados em larga escala entre os usuários. Isso faz com que a adoção de um sistema diferente, não compatível, seja inviável. É só pensar que o funcionário que essa empresa vai contratar, geralmente já vai estar treinado no sistema Office. Os clientes dessa empresa, estão acostumados com o sistema Office, as escolas treinam seus alunos no Office e assim por diante. Em suma, quanto mais gente usa o sistema Office, melhor para Microsoft.
Da mesma forma, se a maioria dos vendedores estão no Mercado Livre e utilizam o Mercado Pago como forma de pagamento, mais consumidores serão atraídos para o Mercado Livre, pela maior variedade de produtos. Por sua vez, esses mesmos consumidores vão usar o Mercado Pago para realizarem seus pagamentos. Entendeu a lógica?
Por fim, no caso da Coca-Cola, que tem aproximadamente 65% do mercado de refrigerantes do Brasil, a escala se aplica mais uma vez. Afinal, é bem difícil para um novo entrante competir com a capilaridade de distribuição da Coca, que pela escala, encontra-se presente em cada cafundó brasileiro.
Acho que deu pra perceber que os três fatores são complementares entre si. Mas é preciso ressaltar que a escala é um fator que protege a duração dos dois primeiros. Afinal, clientes morrem e tecnologias podem ser superadas. Mas a escala garante que essas vantagens vão durar mais tempo.
⏳ Atemporalidades
Veja agora, leve pra vida.
Por hoje é só pessoal 🤙
Bebam café, se hidratem e não se esqueçam que DCF ainda é a forma mais confiável de se avaliar qualquer ativo gerador de caixa.
Bom final de semana e bom descanso!