Gigantes asiáticos (e o Air Jordan de 35 reais)
Eles atacam não só no varejo, mas também nas estradas. O melhor mercado e a melhor geografia do mundo? Pombos no xadrez. E "um exemplo extremo do que um homem trabalhador pode alcançar"
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☕ Expresso de Notícias
Logística
O pior trimestre dos últimos 17 anos!
Isso mesmo, você não leu errado. No primeiro trimestre de 2022 foram vendidos apenas 371,6 mil carros. Isso significa uma retração de 25,4% em relação ao primeiro trimestre do ano passado.
Um conjunto de fatores, como a persistência na falta de semicondutores, a ausência de modelos mais baratos no mercado e a crescente taxa de juros nos financiamentos parecem ser os ventos de proa responsáveis pelo número ruim.
Mas tem gente fazendo bonito e apresentando crescimento de vendas. Este artigo publicado na InfoMoney traz informações preciosas sobre uma nova tendência de consumo e movimentações no market share brasileiro.
O gosto do brasileiro por SUVs — que no ano passado passou a ser o subsegmento mais vendido do país — parece cada vez mais consolidado. No top 10 dos mais vendidos, temos VW T Cross, Jeep Compass, Hyundai Creta, Jeep Renegade e GM Tracker, que juntos responderam por 48% das vendas.
Essa nova tendência de consumo gerou uma dança das cadeiras entre as montadoras, na briga por market share. Se antigamente o mercado era dominado por Fiat, Ford, GM e VW, atualmente, nosso top 4 fica com Fiat (21%), GM (13%), Toyota e Hyundai (11% cada).
Claro que com o mercado sofrendo, boa parte delas sofreram junto, vendendo menos. Exceto por 5 marcas. As duas primeiras, hoje, são do Grupo Stellantis (Citroën-Fiat-Jeep-Peugeot), que vem se mostrando uma aposta de sucesso, já que está levando mais de ⅓ do mercado, com 33,4% de participação.
As marcas Peugeot e Citroën, antes menos bem quistas pelo brasileiro, cresceram 111% e 78% respectivamente, ocupando primeira e segunda posições no ranking de vendas (mesmo com esse cenário tenebroso). Ao que parece, a Fiat está conseguindo se reinventar com sucesso, dando mais representatividade para as marcas francesas, além de marcar presença no mercado de picapes, que deixou uma lacuna, antes preenchida pela Ford e seus veículos de “raça forte”.
Em terceiro lugar, tivemos a novinha Hyundai, que aumentou suas vendas em 49%. Depois dela a Toyota, com crescimento de 21,5%, ficou com a quarta posição. Por fim, pra fechar o top 5, a Mitsubishi registrou alta de 5% nas vendas.
É, parece que ninguém segura essas asiáticas!
Varejo
Gigantes asiáticos
Na edição de 25 de março do Diário de Omaha, comentamos sobre como as varejistas brasileiras, em especial a Guararapes - GUAR3 (dona da Riachuelo), pretendem se proteger das varejistas estrangeiras. Agora, vamos aprofundar nesse tema:
A presença de marketplaces estrangeiros no Brasil não é novidade pra ninguém. O Mercado Livre, por exemplo, nasceu em 1999 na Argentina e no mesmo ano já abriu as portas no Brasil.
Em 2010, foi a vez da OLX, que foi fundada por um americano e um argentino, chegar aqui no Brasil.
Depois chegou a Amazon, que botou os pés aqui nas terras tupiniquins de forma discreta em 2012. Inicialmente, ela vendia apenas livros digitais. Em 2014, passou a vender também livros físicos. Em 2017, ela deu um passo a mais e se tornou uma marketplace que oferecia de tudo.
Acontece que a presença desses marketplaces nunca foi uma grande ameaça a empresas como Renner, Guararapes, C&A e Marisa, afinal, as roupas que você encontra nesses sites estrangeiros não tem nada de muito especial. Elas ficam numa faixa de preço parecida e muitas vezes tem qualidade duvidosa, podendo ser até falsificadas. Dessa forma, o mais seguro era seguir atualizando o guarda-roupa nas varejistas de moda tradicionais.
Agora novos marketplaces vindos do outro lado do mundo, mais especificamente da Ásia, começaram aparecer por aqui. Eles oferecem diversos produtos a preços bem competitivos, inclusive roupas.
A princípio, eles não eram muito bem vistos. Os sites não são lá muito agradáveis. São bagunçados e chovem pop-ups na cara de quem os visita. Além disso, os pedidos podem demorar mais de um mês para chegar. Acontece que mesmo assim, eles começaram a atrair cada vez mais clientes por conta de seus baixíssimos preços e qualidade relativamente boa.
Como vocês podem ver, se colocar lado a lado com as varejistas de moda, a Shopee e a Aliexpress, quando se trata de acessos, já superaram e muito as varejistas daqui. Tudo bem, elas vendem diversos produtos além de roupas, mas, se olharmos para a Shein, que é especializada em vestuário, vemos que ela já passou a Marisa, a Riachuelo, a C&A e tá encostando na Renner.
Esses sites internacionais, que são conhecidos como cross-border, faturaram R$ 36,2 bilhões em 2021, o que representou 17% do comércio online brasileiro.
Esses varejistas asiáticos estão se aproveitando de uma brecha que autoriza a pessoa física a enviar bens estrangeiros a outra pessoa física no Brasil sem pagar impostos, desde que a mercadoria custe menos do que o equivalente a US$ 50. Acontece que os vendedores falsificam o valor dessas vendas na hora de mandar pra cá. Basicamente, se você compra algo de US$ 60 dólares na Aliexpress, o vendedor vai falsificar o valor quando enviar para cá e o produto não vai ser taxado quando chegar aqui.
A festa não para por aí. Esses vendedores também não pagam ICMS, PIS e Cofins. Ainda tem o fator das condições de trabalho que são impostas aos funcionários que produzem essas mercadorias, que não são lá muito amigáveis. Assim, o custo de mão de obra diminui bastante. Eis o resultado:
Claro que muita coisa é falsa. Não há chances desse Air Jordan ser original. De qualquer forma, dá uma olhada nos comentários:
Mas não vai achando que os asiáticos estão se dando por satisfeitos apenas com a oferta de produtos muito baratos. Eles estão investindo na logística pra reduzir cada vez mais o tempo de entrega. A Aliexpress, por exemplo, faz voos fretados pra entregar os produtos aqui. Além disso, outras experiências têm sido feitas. A Shein, no final de março, começou a testar o modelo de loja física com uma pop-up store no Rio de Janeiro.
Esse crescimento pode prejudicar bastante as redes nacionais, diminuindo as vendas e, consequentemente, a Receita delas. Afinal, não é a primeira vez que isso acontece por aqui. O setor calçadista também já sofreu bastante nas mãos dos asiáticos.
Lá em 2011, o dólar desvalorizou muito, chegando a R$ 1,60 — dá até saudade 😥. Nisso, o mercado foi inundado por calçados chineses e a importação no setor subiu mais de 40%.
Ficou extremamente difícil para as calçadistas bater de frente com o gigante asiático, mesmo com as tarifas antidumping que foram adotadas a partir de 2010. A razão é que as indústrias chinesas driblavam a fiscalização, transferindo a produção da China para países não tarifados, como Vietnã, Indonésia e Malásia, e aí, de lá, ela era exportada para o Brasil.
Pra você ter ideia, a Vulcabras, dona da Olympikus, chegou a flertar com a morte nesses tempos. (Temos um episódio no VBox que conta toda a crise da empresa!).
Agora, chegou a vez do varejo. Se nada for feito, pode ser que algumas varejistas menos preparadas passem por algo parecido.
De qualquer modo, o governo tá vendo o que tá rolando e tá mexendo os pauzinhos pra amenizar a situação. Ele está criando uma Medida Provisória pra reduzir a sonegação de impostos desses marketplaces estrangeiros em função da pressão de grandes nomes do varejo no Brasil.
A Receita Federal propõe que as plataformas paguem impostos no momento em que as compras são feitas, e não no momento em que chegam no país, como é feito hoje. Isso acabaria com a questão dos espertinhos que falsificam o preço dos produtos pra não arcar com a taxação sobre produtos de valor superior a US$ 50.
Mas será que isso é suficiente pra conter o gigante asiático? Só o tempo nos dirá.
🍷 Sommelier
Consumimos de tudo. Trazemos o que importa
📜 Cartas dos Gestores
A última carta da Dahlia Capital explica os fatores que fizeram com que a Bolsa brasileira subisse 36% em dólares em 2022 e aborda como a geografia é um importante aspecto por trás desse número:
Já a Kinea traz a analogia do pombo no tabuleiro de xadrez pra comentar como a combinação de processo inflacionário, preço do petróleo e crise geopolítica provocaram uma bela bagunça no jogo da economia global.
Agora, os jogadores estão sem saber ao certo as posições e como conduzir a partida. Porém, como você deve estar cansado de ouvir, é justamente nas crises que surgem as melhores oportunidades.
📚 Livros
O Almanaque de Naval Ravikant - Um guia para a riqueza e a felicidade
Você pode ler esse título e pensar: “nossa, outro guru querendo ensinar aos outros como ficar rico e ser feliz”. Já estou cansado de life coaches. Vou passar!
Ok, eu sei, eu sei. O título pode gerar algum preconceito. No que pese ele fazer jus ao conteúdo do livro, Naval não quer ensinar nada. Não há receita de bolo, mas sim reflexões, baseadas na experiência de vida que ele teve, a respeito do que pode trazer riqueza e felicidade.
Naval é um indiano, radicado nos EUA desde criança, meio nerd, que se formou em Ciência da Computação pela Darthmouth College. Interessado por tecnologia, chegou até ser consultor no Boston Consulting Group para a área. Pelo menos foi assim até se mudar para o Vale do Silício na Califórnia e iniciar seu caminho como empreendedor.
Foi lá no Vale que ele se aproximou do mercado de capitais, quando em 2010 — depois de algumas empreitadas de sucesso — criou o AngelList. Trata-se, basicamente, de uma plataforma por assinatura destinada a investidores que buscam oportunidades em startups (venture capital). Como a gente pode imaginar, a plataforma foi um sucesso.
O livro não foi escrito por Naval. Como o próprio nome diz, é um almanaque. Ou seja, uma coletânea feita por Eric Jorgenson com os principais aforismos, textos, e threads do Twitter feitas por Naval. Inclusive a mais famosa de todas: How to Get Rich (without getting lucky).
Em essência, você vai encontrar um livro sem narrativa cronológica, cheio de notas sobre profissões, riqueza, felicidade e propósito, com um detalhe importante: a atenção ao jogo de longo prazo. Jogo que abrange não só os investimentos financeiros, mas também a mudança de hábitos, as amizades construídas e as relações profissionais. Detalhe: tudo isso de forma bastante pragmática.
Não venceu o preconceito do título ainda? Então vamos terminar com uma frase de Naval:
“Heurística simples: se você estiver igualmente dividido diante de uma decisão difícil, escolha o caminho mais doloroso a curto prazo.”
📺 Off-topic
Nem só de mercado vivem os investidores.
O final da sexta e última temporada de Peaky Blinders foi ao ar no último domingo, dia 03 e deixou os fãs com um gostinho de quero mais.
Se você não conhece Tommy Shelby para de ler imediatamente e corra pra frente da sua TV, ligue na Netflix, e comece a assistir. Aproveite que já passou de mei-dia nessa sexta-feira e o trabalho nem importa mais. Afinal, tenho certeza que maratonar as desventuras da família Shelby é justificativa o bastante para compensar a falta com o patrão. 🤨
A série conta a história de uma família de criminosos ingleses, da região de Birmingham logo após a Primeira Grande Guerra, em 1919. Como é de praxe nessas narrativas, as personagens estão catando os cacos de seus próprios seres, estilhaçados pelos terrores de uma guerra de trincheiras e suas consequências econômicas e sociais. Enquanto isso, a família Shelby, liderada por Tommy, tenta ascender no submundo criminoso das apostas em corridas de cavalos, influenciando seus resultados.
Durante as 6 temporadas você vai poder acompanhar a construção e destruição das personagens, tentando sobreviver enquanto carregam o peso das consequências de suas decisões ao longo da trama. E tudo isso com uma pitada leve de misticismo cigano e diálogos em romeno.
Para acalmar os fãs, já que a última temporada deixou muitas pontas soltas, o criador da série, Steven Knight, falou que essas pontas vão ser fechadas num filme, que deverá ser lançado até 2024. Sem contar que é possível que alguns spin-offs saiam do papel, antes disso. Afinal, o universo de Peaky Blinders é extremamente prolífico, e ganchos para spin-offs são o que não faltam na série.
Curioso?
Vou te deixar com uma das excelentes frases de Tommy:
“Eu sou apenas um exemplo extremo do que um homem trabalhador pode alcançar!”
⏳ Atemporalidades
Leia agora, leve pra vida.
Uncomfortable fact: You'll never get good at anything unless you're willing to be bad at it first. @heyjoeyjustice
Avoid using pharma drugs to fix problems created by your lifestyle. @FitFounder
Por hoje é só pessoal 🤙
Bebam café, se hidratem e não se esqueçam que preço importa!
Bom final de semana e bom descanso!