Entre cartas (de MTG) e roletas
O Monstro está saindo da jaula! _____ is the new oil. Presente de Omaha. Invest like the best. Um homem para qualquer mercado. A NFT antes da NFT.
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☕ Expresso de Notícias
Curto e sem açúcar
O Monstro está saindo da jaula!
Por thiagomd_1
Finalmente Localiza e Unidas, ao que parece, conseguiram apresentar um comprador para parte do Rent a Car (RAC) da Unidas.
No Diário da semana passada, falamos sobre a notícia de que a Ouro Verde podia ser a potencial compradora da parcela da Unidas que deve ser vendida pela Localiza, para cumprir o acordo feito com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) para incorporação da empresa.
Ontem, a Unidas publicou Fato Relevante (FR) avisando que um contrato com a Brookfield, controladora da Ouro Verde, fora assinado. No FR, a empresa informa que fazem parte do acordo 49 mil carros e alguns ativos a serem segregados do RAC e Seminovos da Unidas. No entanto, não há nenhuma menção sobre a venda da marca Unidas e de pontos de atendimento do RAC.
Fato é que, conforme a gente especulou no último Diário, o CADE queria um novo player no setor, que pudesse concorrer com as atuais gigantes (Movida e Localiza). A Ouro Verde, por sua vez, já é bem forte na Gestão e Terceirização de Frotas (GTF) e tem por volta de 37 mil veículos. Com essa compra, ela mais que dobra sua frota.
A frota total de todo o setor de locação brasileiro, conforme dados atualizados até o final de 2021, pela ABLA (Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis), no RAC, é de 545 mil carros. Espera-se de maneira bem otimista, que até 2025, essa frota chegue a 810 mil carros. Isso dá um crescimento anual médio de 14,1%.
Desse mercado, a líder é a Localiza, com 39,6%, Movida vem logo atrás, com 16,5%, seguida de Unidas, com 14,11%, tudo em tamanho de frota. Ou seja, juntas, as três possuem pouco mais de 70% do mercado de aluguel por diárias, parcela que até 2020 era de aproximadamente 75%.
Essa perda de 5%, no entanto, deve ser temporária, já que só aconteceu porque a Localiza não andou comprando carros em 2021 e perdeu quase 5% de market share sozinha. Tudo bem que existe uma falta de oferta de novos no mercado, mas a gente acha mesmo é que ela não cresceu o RAC, por causa da incorporação da Unidas. Afinal, essa incorporação estava em andamento e ficou pendente de aprovação até o final do ano passado. Não era de bom tom crescer o RAC demais, justamente no ano que todo mundo estava falando que a incorporação seria maléfica para a concorrência.
Considerando que a penetração do mercado de RAC no Brasil é de 7,6%, razoavelmente menor que nos EUA, que é de 13,5%, dá para imaginar que existe espaço para crescer por aqui. Ainda mais com os atuais preços de mercado dos veículos novos e seminovos.
Nosso país é um lugar com um histórico bem razoável de aluguel de bens de consumo. Principalmente quando o bem alugado é muito caro. Foi assim com linhas telefônicas, televisores, videocassetes e agora com carros. O que queremos dizer é que os altos preços dos veículos, a falta de novos no mercado, as longas filas nas concessionárias para alguns modelos, devem incentivar o aluguel.
Sem contar no atual ciclo de alta de juros globais, que estão levando consigo o custo dos financiamentos. As taxas atrativas de 2020 não existem mais. Em resumo, os carros estão mais caros, os financiamentos também, além de mais difíceis de serem conseguidos. É bem possível que fique cada vez mais comum para o brasileiro alugar carros para viagens longas, em família, enquanto o carro menor, de sua propriedade, fica na garagem.
Pode ser de olho nisso tudo que a Ouro Verde assinou o contrato de compra de ativos do RAC e Seminovos da Unidas. Afinal, ela pode ter visto uma oportunidade de entrar em um segmento com boas perspectivas de crescimento e mais fácil de escalar que o GTF.
Se é isso mesmo que vai rolar, só o futuro dirá. Enquanto isso, continue lendo esse e-mail que você vai encontrar uma chance de descobrir no detalhe tudo sobre essa operação entre Localiza e Unidas 👀.
____ is the new oil
Por guilhermevcz
Um dos principais motivos pra alta dos preços da gasolina é o déficit mundial de capacidade de produção de combustíveis.
Durante a pandemia, o equivalente a cerca de 1 milhão de barris por dia em capacidade de refino foram desativados no EUA. Com a reabertura da economia, as pessoas precisaram voltar a usar algum meio de transporte pra ir e vir do trabalho, além das viagens rodoviárias e aéreas terem ressurgido. Pra atender a essa demanda, as refinarias no país precisaram voltar a operar no limite. Na semana passada, de acordo com o Departamento de Energia, elas operaram com 94,2% de sua capacidade.
Apesar do consumo interno aquecido, as exportações americanas aumentaram. Isso porque, como o resto do mundo também voltar a precisar de combustível, traders tem aproveitado as oportunidades de arbitragem cambial vendendo ao exterior.
No final das contas, o preço da gasolina no EUA se aproximou da média recorde de 5 dólares por galão (~R$ 6,61 por litro — um galão equivale a 3,8 litros).
Mas o mais importante é que, como você deve saber, o impacto dos custos dos combustíveis gera um efeito cascata por praticamente todos os setores da economia. Por exemplo:
As passagens aéreas aumentaram 12,6% entre abril e maio (estando 37,8% mais altas na comparação com maio de 2021);
A Mondelez, conglomerado de alimentos, dono de marcas como Oreo, Club Social, Lacta, Halls e Tang, disse que seus custos com matérias-primas ainda devem subir de 10 a 13% neste ano.
E, claro, a indústria automobilística também sofre, já que o preço do combustível é um fator importante na decisão de compra. As buscas por veículos elétricos na internet aumentaram 73% em janeiro, enquanto a de veículos híbridos subiu 35%.
Mesmo com custo ainda pouco convidativo, as montadoras andam partindo pra esse mercado até mesmo no Brasil. Algumas mais do que as outras. A General Motors anunciou que pretende ir direto para os veículos 100% elétricos por aqui, ao contrário da Volkswagen, da Toyota e da Stellantis que buscam desenvolver modelos híbridos movidos a etanol antes de partir para os totalmente elétricos.
Mundo afora, até a icônica Ferrari deve se render aos elétricos. No dia 16 de junho, a montadora apresentará seu plano de negócios para os próximos 4 anos que deve detalhar sua estratégia em relação aos elétricos e também aos híbridos.
Enquanto isso, a pergunta que paira no ar é: de onde virá a energia para alimentar os motores elétricos? Já que não adianta lá muita coisa um motor elétrico dependendo de qual for sua fonte energética:
Países como a Alemanha, por exemplo, que tem grande parte da sua energia originada da queima do carvão, um motor a diesel é mais limpo do que um elétrico. De fato, um motor movido a etanol é mais limpo do que um elétrico em praticamente toda Europa, que possui, em grande parte ainda, “matriz energética suja”.
Fontes renováveis como solar e eólica conseguirão suprir a demanda de combustível deixada pelo petróleo? Os biocombustíveis e o hidrogênio conseguirão manter os motores a combustão no páreo contra os motores elétricos? Para uma das próximas empresas a entrar no VBOX, responder ______ is the new oil é questão de sobrevivência.
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🎙️ Podcasts
Invest like the best
Por thiagomd_1
Esse talvez seja o melhor podcast sobre investimentos, do qual provavelmente você nunca ouviu falar.
Nele, o host, Patrick O'Shaughnessy, convida figuras eminentes do mercado para uma entrevista. E o último convidado do show foi ninguém menos que Aswath Damodaran.
Se você não sabe quem é Damodaran, ele é um professor de finanças da Stern School of Business, na Universidade de New York. Seu livro sobre Valuation é considerado por muitos a bíblia sobre o assunto e Damodaran geralmente é visto como uma das principais referências acadêmicas sobre a avaliação de empresas. Isso se ele não for a principal referência.
Nesse episódio a pauta foi inflação, mais alguns tópicos sobre ROIC e ESG. O primeiro, diz respeito ao Return On Invested Capital, que de uma maneira simples, é o retorno gerado pela empresa, considerado o total de capital investido na execução da atividade. O segundo tópico, mais conhecido, diz respeito ao atualmente popular Environmental, Social, and corporate Governance, e seus desdobramentos sobre o conceito de empresa “boazinha”.
Damodaran começa falando sobre inflação e já começa com considerações sobre o pior tipo de inflação: aquela que não é esperada. Uma inflação esperada, pode ser levada em consideração nos modelos de investimentos em geral. Mas uma inflação inesperada, seja para cima ou para baixo, pode ser fatal.
Ou seja, é bem melhor uma inflação esperada de 10%, do que uma inflação volátil, que pode ir de 4% a 16%. Justamente porque o que mata empresas é a incerteza sobre a inflação.
O professor ainda fala sobre suas preocupações sobre uma possível recessão, em decorrência desse processo inflacionário. Em suas palavras, em uma tradução livre: “Para acabar com a inflação, existe apenas um caminho e é um caminho doloroso, que é colocar a economia em uma longa e profunda recessão!”
O problema aqui é que deve ficar bem mais difícil de se começar novos negócios e o capital de risco para financiar esses investimentos deve ficar cada vez mais escasso. É isso que torna esse período inflacionário que estamos vivendo ainda mais desafiador que a própria crise causada pelo COVID-19.
Afinal, são tempos de se descobrir, de novo, o que é discricionário e o que não é, no consumo da população. Tem tanto tempo que economias desenvolvidas não sabem o que é inflação, que é difícil dizer, ao certo, se um Iphone, por exemplo, é um consumo discricionário. As economias estão modernas, diferentes. Isso quer dizer que o consumo também mudou. Em outras palavras, é preciso tempo para testar quais empresas terão mais resiliência adiante.
Para ele, a melhor estratégia, nesse cenário, é diversificar. Ter muitos ativos, espalhados em várias geografias, incluindo aí a Europa. Segundo Damodaran, é possível que o velho continente sofra menos com a inflação do que os EUA, apesar de não ter gerado retornos tão bons na última década.
Além dos efeitos da inflação, o professor discutiu sobre o ROIC. Segundo ele, essa deve ser uma das métricas a serem olhadas pelo investidor, mas nunca a única. Em primeiro lugar, existem muitas formas de mascarar o ROIC com estratégias contábeis, além disso, em empresas com muito crescimento inorgânico é um verdadeiro pesadelo calculá-lo, muito em razão do ágio (goodwil).
Ele alerta que o ROIC geralmente captura o passado da empresa. A Kraft Heinz, por exemplo, tem um ótimo ROIC, mas não pelos investimentos novos. São as marcas criadas há 50 anos que garantem isso hoje. E é importante diferenciar isso, antes de investir em uma empresa.
Por fim, ele alerta sobre suas pesquisas a respeito do ESG. Nas palavras dele:
“Eu também ouvi muita conversa sobre como ESG está fazendo do mundo um lugar melhor, aí olhei sobre quanto de energia estamos usando de combustíveis fósseis e adivinhe? Não mudou muita coisa na última década. (...) Você tem esses consultores clamando que práticas ESG costumam deixar a empresa mais valiosa, mas eu procurei e não achei evidências que comprovam isso.”
Enfim, chega de spoilers. O melhor é você ir correndo escutar esse episódio, porque ele está uma verdadeira aula.
📚 Livros
Um homem para qualquer mercado: De Las Vegas a Wall Street, como derrotei a banca e o mercado
Por peedro_avila
“A casa sempre vence!”. Provavelmente, você já escutou essa frase em algum lugar. E na verdade, ela quase sempre faz sentido — sim, dificilmente você ganhará de um cassino ou de uma casa de apostas. A explicação para isso é puramente matemática e vem de um conceito chamado de “valor esperado” ou “esperança matemática”.
Para entendermos melhor como um cassino usa esse conceito para ser lucrativo, vamos a um exemplo:
Uma roleta europeia é formada por 37 números (0 a 36). Uma das apostas possíveis é apostar se a bolinha cairá em um número par (2, 4, 6, …, 36) ou em um número ímpar (1, 3, 5, …,37). Caso o apostador acerte, recebe o valor da aposta dobrado, ou seja, 100% de lucro. Porém, caso ele erre, perderá tudo.
Acontece que, o fato da roleta conter o número 0, que não é considerado nem par e nem ímpar, faz com que no longo prazo, o cassino tenha enorme vantagem.
Independente da escolha do apostador (par ou ímpar), ele sempre terá 18 números ao seu favor e 19 números contra, ou seja, suas chances de perder são sempre maiores que as de ganhar. Dessa forma, o valor esperado de uma aposta desse tipo é de 2,7% negativos. Por exemplo, se todos os dias você for a um cassino e apostar R$ 100 no resultado da roleta, no final de 1.000 dias você terá apostado R$ 100.000, com um valor esperado de um prejuízo próximo a R$ 2.700.
Agora, imagine a quantidade de vezes que a roleta gira em uma noite em Vegas e que em cada vez que ela gira, o cassino lucra, em média, 2,7% do valor total apostado. Acho que agora ficou claro o quanto um jogo de azar pode te deixar rico, caso você use a matemática ao seu favor, né?
Porém, durante as últimas 4 décadas do século passado existiu um homem que não só desafiou os cassinos, mas provou na prática que era possível vencê-los. Esse homem chama-se Edward Thorp e é o autor do livro “Um homem para qualquer mercado”.
No livro ele conta sua história de vida e como conseguiu usar a matemática ao seu favor e ganhar dinheiro, primeiro em Vegas e depois no mercado financeiro.
Thorp é o autor do livro “Beat the Dealer” que fez muito sucesso nos Estados Unidos durante o século passado e que ensina sua metodologia para vencer os cassinos no jogo de cartas chamado de “Blackjack” ou “21”.
Talvez você nunca tenha ouvido falar desse livro, mas se assistiu ao filme “Quebrando a banca”, saiba que a metodologia que os alunos do M.I.T. utilizavam para contar cartas no 21 foi totalmente inspirada nesse livro.
Além do 21, Thorp também criou o primeiro computador de bolso da história, que era usado por ele para prever em qual número a bolinha cairia na roleta.
Após o sucesso em Vegas, Thorp optou por abandonar os jogos de azar e a carreira acadêmica e se tornou gestor de um fundo de investimentos. Porém, continuou a utilizar sua capacidade analítica ao seu favor e com uma abordagem quantitativa nas análises, conseguiu, por décadas, bater o mercado.
Todas essas histórias são contadas no livro e, sinceramente, entendê-las vai mudar a forma como você enxerga os eventos aleatórios.
Certamente esse livro vai te fazer pensar duas vezes antes de entrar em um cassino ou comprar uma opção.
Valuation (freestyle) do livro:
Nota: 9
Grau de dificuldade: básica
🃏 Off-topic
Nem só de mercado vive o homem.
A NFT antes da NFT
Por thiagomd_1
Magic: the Gathering, pra quem não conhece, é um jogo de cartas colecionáveis. É tipo Pokémon, mas se você falar isso pra qualquer jogador de Magic, pode colocar em risco sua segurança física.
Adianto, é um jogo de nerds que gostam de colecionar cartas, criado no início da década de 90, por Richard Garfield, que por sua vez era um nerd. Afinal, pra ter um Ph.D em Matemática pela Universidade da Pensilvânia, em análises combinatórias, não basta ter vontade, tem que ser muito nerd.
Garfield e seu jogo foram descobertos por Peter Adkison, fundador da Wizards of the Coast, empresa responsável por jogos famosos de RPG, como o icônico Dungeons & Dragons. Lembra aquele jogo que os garotos de Stranger Things ficavam jogando no porão da casa do Mike? Pois é, era Dungeons & Dragons ou D&D, para os íntimos.
Fato é que Adkison viu potencial no complexo jogo inventado por Garfield. Pra você ter uma ideia de como ele funciona, a forma mais comum é jogar um contra o outro, cada jogador com 20 pontos de vida e um baralho (deck) de no mínimo 60 cartas. A forma mais comum de ganhar é reduzir os pontos de vida do oponente a 0, antes que ele faça isso com você. Mas de longe essa é a única forma.
E como fazer isso?
Aí que está o segredo do jogo. São tantas as formas possíveis, são tantas as combinações de cartas, que existem diversos jeitos diferentes de se fazer isso e o jogo raramente vai ficar enjoativo. Um jogo, sempre vai ser diferente do outro, mesmo que os mesmos decks sejam usados pelos mesmos jogadores.
Só pra você ter uma pequena noção de como funciona, dá uma olhada nessa carta de Piromante Pródigo:
Essa é uma típica criatura do jogo. Repare nos detalhes que envolvem a carta. Quase todos eles podem gerar um efeito diferente no jogo. Apesar de extremamente improvável, com ela é até possível tentar reduzir os pontos de vida de seu oponente a 0, mesmo que demore muito pra conseguir, de 1 e 1 ponto de dano.
Desde seu início, o jogo foi estruturado e impresso em edições, com tiragem limitada. Cada edição dessa, corresponde a uma expansão do jogo, que apresenta uma coleção de cartas inéditas (ou não) possíveis de serem abertas em boosters (pacotinhos) aleatórios. Esses boosters são comercializados pela Wizards of the Coast através de distribuidoras oficiais no Brasil e em vários outros países do mundo, que, por sua vez vendem o material para as lojas, responsáveis finais pela venda direta ao consumidor.
Analogamente, seriam como figurinhas da Copa do Mundo, vendidas em pacotes aleatórios. A diferença é que esses cards são impressos em quantidades que variam de acordo com sua raridade, em expansões do jogo criadas desde 1993.
São mais de 100 expansões diferentes e mais de 23 mil cartas criadas ao longo de todos esses anos. Além disso, cada card tem sua tiragem específica, já que pode ser comum, incomum, raro ou mítico, sendo que a tiragem para os comuns é extremamente mais elevada do que a tiragem dos míticos, que é bem pequena, quando comparadas.
Ocorre que, cada uma dessas cartas possui um valor individual próprio, relacionado com o tamanho de sua demanda no mercado e o tamanho de sua tiragem. Logo, quanto maior a demanda e menor a tiragem, maior o valor individual de cada card.
Foi esse valor individual de cada card que criou um mercado secundário de “singles” (cards avulsos) bastante explorado no Brasil e no exterior, por inúmeras lojas que além de venderem os cards em boosters, os vendem separadamente, avulsos.
Por exemplo, existem cartas tão comuns, que valem cerca de R$ 0,25 (a grande maioria). Entretanto, existem cartas tão raras, como as cartas abaixo, impressas na terceira edição do jogo (Unlimited), em 1993, que podem atingir um valor conjunto de mais de US$30 mil:
Na verdade, só aquela do canto inferior direito ali (com borda preta), vale mais de US$ 30 mil. Justamente porque foi impressa em Beta (segunda edição) e tem uma tiragem bem menor que sua “irmã”, no canto inferior esquerdo, de borda branca.
Enfim, não estamos aqui interessados em te ensinar a jogar Magic, mas te dar uma dimensão do tamanho da economia que esse “joguinho” movimenta.
Em primeiro lugar, foi o Magic que colocou a Wizards of the Coast no mapa. Tanto que, em 1999 ela foi comprada pela gigante Hasbro, que certamente você deve conhecer. Afinal, ela é dona de marcas como MONOPOLY — que todo investidor deve conhecer — BABY ALIVE e PEPPA PIG — que todo pai ou mãe recente deve conhecer, entre outras, como POWER RANGERS. Além do que, ela é listada na Nasdaq, com o ticker $HAS, e tem valor de mercado superior a US$ 10 bilhões.
Em segundo lugar, é o Magic que tem uma das cartas mais caras já leiloadas no eBay, pelo valor de US$ 500 mil. Trata-se de uma Black Lotus de Alpha (primeira edição do jogo), assinada pelo artista, dono da arte que estampa a cartinha:
Talvez você esteja pensando quem é o maluco que paga tão caro por uma cartinha de papelão, certo?
E é exatamente por isso que estamos aqui. Afinal, esse valor não fica muito atrás de um dos Bored Apes que foram vendidos uns meses atrás, para o Neymar.
Bom, a verdade é que por trás desse preço existe o mesmo princípio de escassez que rege o mercado de obras de artes, incluindo aí o mercado de NFTs de macacos. Na primeira década de vida do Magic, como forma de compensar os jogadores e atrair mais interesse par ao jogo, a Wizards of the Coast fez uma promessa de não reimprimir certas cartas nunca mais. Foi criada a Reserved List!
As cartas que entraram para essa listinha aí, foram impressas apenas algumas vezes e depois nunca mais foram reimpressas em nenhuma das novas coleções lançadas pela empresa.
Parecia a combinação perfeita: um jogo complexo, interessante, salpicado com uma dose razoável da exclusividade proporcionada pelo colecionismo. Não deu outra, o jogo estourou mundo afora. Boa parte de quem foi criança e adolescente na década de 90 deve ter jogado ou pelo menos conhecido alguém que jogou.
De lá pra cá, o jogo só cresceu. Em 2021, foi responsável por uma receita de aproximadamente US$ 1 bilhão, sozinho. A base de jogadores já passou de 40 milhões de pessoas em todo o mundo e existe até circuito profissional. Detalhe: um dos campeões mundiais é brasileiro e chama Paulo Vitor Damo da Rosa.
Nessa altura você deve estar se perguntando: ok, mas e daí?
Ora, já se esqueceu da Reserved List?
A Black Lotus, do exemplo, foi impressa em Alpha, Beta e Unlimited (as três primeiras edições do jogo). Acontece que a de Alpha tem a borda preta e arredondada e dela só foram impressas 1.100 unidades. Isso mesmo, só tem 1.100 circulando no mundo inteiro. E sabe o que deixa ela mais única? A assinatura do artista. Cristhopher Rush morreu em 2016 e isso significa que ele nunca mais vai assinar nenhuma carta de Magic. Ou seja, a Black Lotus de Alpha, em um estado de conservação quase perfeito e assinada por ele vale muito mais que uma Black Lotus qualquer.
Sim, eu acho que você já deve ter percebido, agora: a carta de Magic é a precursora dos NFTs! Ela é o NFT raiz! 😂 Já que escancara na nossa frente o conceito de escassez. Mas sem a possibilidade de um print na tela do computador copiar o .JPEG.
Escassez, em Economia, significa que não há uma quantidade suficiente de um produto para distribui-lo a preço 0 para atender todas as pessoas que precisam desse produto ou demandam por ele no mundo. Por isso, para regular essa distribuição existe o sistema de preços, que basicamente serve como um termômetro para regular oferta e demanda, afinal, somente aqueles dispostos a pagar o preço do bem, terão esse bem. De maneira simples, quanto maior a demanda e menor a oferta, mais alto o preço e vice-e-versa.
É óbvio que um mercado com preços tão malucos atraiu a atenção de falsificadores. Mas o meio se auto regula. Nos torneios, somente são permitidas cartas verdadeiras e os jogadores e lojistas geralmente sabem reconhecer as cópias, ainda mais porque a maioria é mal feita.
Por fim, é claro que eu já tive uma coleção dessas cartas. Mas vendi tudo em 2020/21, com bastante lucro, até. Algumas cartas da Reserved List que eu tinha, tiveram uma valorização de mais de 600% em 7 anos, contados desde a primeira que comprei em 2013. Quem me dera se minhas ações subissem assim!😂
Agora, uma vantagem dessas cartas sobre as NFTs são que elas podem ser usadas em um jogo divertido, que foi responsável por grandes amizades, que cultivo até hoje. Ao contrário das primas digitais, que só podem ser usadas em jogos sem graça (pelo menos por enquanto). Sem contar que a demanda por Magic parece firme e crescente, dados os últimos resultados divulgados pela Hasbro.
Quem sabe quando os jogos por trás desses NFTs forem realmente interessantes, eles passem, de fato, a terem uma demanda mais firme e, com isso, um valor mais estável. Até porque seria lindo jogar um Diablo V (quem sabe?), cujos itens, armas e armaduras fossem NFTs.
Disclaimer: não comprei nenhuma NFT, mas estou pensando em voltar a comprar umas cartinhas de Magic!
⏳ Atemporalidades
Leia agora, leve pra vida.
Existe uma voz na sua cabeça que está sempre falando. Especialmente quando fala de si mesmo, ela mente. — Naval
É difícil levar as pessoas ao bem com lições, mas é fácil levá-las pelo exemplo.— Sêneca.
Por hoje é só pessoal 🤙
Bebam café, se hidratem e tomem cuidado com o ROIC divulgado por algumas empresas!
Boa semana e bons negócios!
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Editado por thiagomd_1 e guilhermevcz.