Corrida do ouro
Acerto de contas. Depois da greve vem a inflação. De volta para o futuro. Um novo player no RAC? A Psicologia Financeira. Entregar vs Tomar & Ler para falhar vs Ler para ganhar.
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☕ Expresso de Notícias
Curto e sem açúcar
Um acerto de contas há muito esperado
por @monnerat_rafael
Depois de uma longa espera, finalmente a Hypera (HYPE3) se acertou com o governo. A empresa fechou um acordo de leniência com a Controladoria Geral de União (CGU) e com a Advocacia Geral da União (AGU) pra terminar os processos relacionados à Operação Tira Teima.
Se você não lembra, a Tira Teima foi uma operação da PF feita lá em 2018 que teve como origem a delação premiada do ex-diretor da Hypermarcas, (nome antigo da Hypera) Nelson Mello. A PF investigava o pagamento de propinas feitos pela Hypermarcas a políticos como Renan Calheiros, Romero Jucá e Eduardo Braga.
Em 2020, a empresa já tinha reconhecido que tinha pago R$110 milhões em propinas. Na época, o controlador João Alves de Queiroz Filho, mais conhecido como Júnior da Arisco, se comprometeu a devolver à Hypera os valores pagos indevidamente.
Pelo acordo firmado na semana passada, a Hypera vai pagar outros R$110 milhões aos cofres públicos. A boa notícia pra empresa é que esses R$110 milhões estão bem abaixo dos quase R$370 milhões que nós estávamos prevendo que a Hypera teria que pagar.
Melhor ainda é o fato que esse dinheiro não vai sair do caixa da empresa, já que Júnior da Arisco vai assumir integralmente o passivo.
Por último e nem por isso menos importante, a assinatura do acordo fecha de vez o imbróglio jurídico e todas as incertezas relacionadas à Operação Tira Teima. Pelo processo estar em andamento, vários investidores não podiam comprar o ativo.
Pra surpresa de ninguém, a pressão compradora causada pela assinatura do acordo foi forte e a ação subiu 7,75% desde o anúncio. Só com esses quase 8% de aumento no market cap, Júnior da Arisco já faturou: o valor da sua participação na Hypera aumentou em mais de R$400 milhões.
A pergunta que não quer calar é: esse aumento no valor da Hypera se justifica?
É isso que você vai descobrir no VBOX dela, o próximo do setor farmacêutico a ir ao ar. Não vai perder, hein!
Depois da greve vem a inflação
Por @peedro_avila
É provável que ao ler “greve” e “inflação” na mesma frase, você imagine uma nova greve dos caminhoneiros. Mas calma, pequeno gafanhoto, por enquanto a história que vamos te contar não possui uma causalidade tão óbvia entre essas duas coisas.
Os servidores do Banco Central entraram em greve no dia 1º de abril (acredite, é verdade), reivindicando um reajuste salarial de 27%. O problema é que, sem eles, não há Boletim Focus. Por conta disso, o último Boletim Focus havia sido publicado no dia 02 de maio, com informações coletadas em 29 de abril.
Esses mais de 30 dias sem poder acompanhar as projeções dos índices macroeconômicos criaram um certo suspense no mercado. Até que hoje, dia 06 de junho, um novo Boletim foi divulgado com um resultado surpreendente, a partir de dados coletados na última sexta-feira, dia 03.
O índice mais surpreendente foi o IPCA, usado como um termômetro para a inflação no Brasil. O mercado elevou de 7,89%, no final de abril, para 8,89% as projeções da inflação em 2022, ficando muito acima do teto da meta que é de 5%.
Outras mudanças no Boletim Focus foram a projeção para o crescimento do PIB brasileiro em 2022, que passou de 0,70% para 1,20% e a projeção da taxa de câmbio do final do ano, que subiu de R$ 5 para R$ 5,05. Por outro lado, a projeção da taxa Selic no final de 2022 permaneceu em 13,25% e para o final de 2023, subiu de 9,25% para 9,75%.
Segundo a FGV, a mudança positiva na projeção do PIB se deve pela normalização mais rápida do setor de serviços, uma revisão na previsão da atividade agropecuária no primeiro semestre e um crescimento esperado na demanda externa.
O destaque positivo do setor de serviços é a atividade de transporte, que está em processo de normalização após grande queda durante a crise. O setor de investimento aparece como a grande âncora para o crescimento do PIB em 2022, tendo como principal causa a alta esperada na taxa de juros, impactando diretamente a demanda por bens.
Finalmente, é esperado que as exportações cresçam 3,5% este ano e que as importações tenham uma queda de 0,9%, contribuindo para uma expansão do PIB pela ótica da demanda.
De volta para o futuro — literalmente
Por @guilhermevcz
Em 1975, John DeLorean fundou a marca de carros que leva seu nome. Se você já assistiu ao filme com o título desse texto, o sobrenome dele não lhe é estranho.
O que talvez você não saiba é que essa fabricante de automóveis teve vida curta. Ela fechou suas portas antes mesmo do primeiro filme da trilogia “De Volta para o Futuro” (1985) ir ao ar.
Apesar de sediada nos EUA, os carros eram fabricados na Irlanda do Norte. Isso porque o Governo Britânico ofereceu na época uma bela ajuda financeira pra empresa, numa tentativa de aumentar o número de empregos na região. Mas, apenas sete anos após sua criação, a DeLorean faliu. Má gestão, reclamações sobre a qualidade da fabricação e desempenho medíocre dos veículos — além do fundador ter sido acusado de conspirar pra contrabandear cerca de 24 milhões de dólares em cocaína para os EUA (apesar de ter sido absolvido) — fizeram a empresa quebrar.
Em 1990, Stephen Wynne, mecânico e empresário britânico, adquiriu os direitos da marca e todas peças de reposição disponíveis para os cerca de 6 mil carros da fabricante.
De lá pra cá, Wynne manteve a empresa de pé fazendo a restauração dos carros da empresa e tentando, vez ou outra, emplacar o retorno da saudosa DMC. A diferença é que, agora, ele tenta a sorte de forma totalmente eletrificada.
Pra assumir o cargo de CEO da companhia, chegou Joost de Vries. Ele foi vice-presidente de serviço global da Tesla e vice-presidente de vendas da Karma Automotive, fabricante chinesa de carros elétricos que surgiu com a compra da também defunta Fisker Automotive.
Pra estrear nas pistas, a empresa vai lançar o Alpha5. O carro, que mantém as icônicas portas estilo “asa de gaivota” de seu ancestral, deve ser capaz de ir de 0 a 100 km/h em 2,9 segundos, atingir velocidade máxima de 250 km/h e possuir autonomia de 480 km. Estes são bons números, próximos do que o Tesla Model S entrega: 0-100 km em 3,1 segundos e velocidade máxima de 250 km/h, embora deixe a desejar na autonomia, já que o carro do Elon Musk faz 650 km.
Inicialmente, a DMC fabricará apenas 88 unidades (número que faz referência a velocidade necessária pro carro viajar no tempo nos filmes) numa versão exclusiva pras pistas de corrida, que deve ser apresentada em 18 de agosto. A versão pra quem não é piloto e nem viaja no tempo, vai ficar pra um futuro próximo mesmo: só em 2024.
Apesar da era de juros baixos ter acabado, ao menos temporariamente, várias startups de carros elétricos ainda se mantém de pé. Muitos investidores buscam a próxima Tesla, mas não se engane, fabricar carros é um jogo de escala (vide Volkswagen vs Toyota) ou de status (Ferrari vs Lamborghini). Atingir qualquer um desses dois não é tarefa fácil. Até o mestre Damodaran já cantou a bola (ou o pneu, melhor dizendo): o setor de automóveis tem as características de um mau negócio, onde as empresas coletivamente ganham menos do que seu custo de capital e a maioria delas destrói valor.
Se achar a próxima Tesla pode ser uma utopia nas circunstâncias atuais, encontrar a empresa que vai abastecer os carros elétricos parece ser uma ideia melhor — no preço justo, claro. Quem assina o VBOX, já conhece uma empresa que tem esse potencial.
Ou quem sabe, será melhor apostar num combustível diferente? 🤔 Fica ligado que a Tupy vem chegando por aí!
🔮 Especulando
Refletindo sobre (possíveis) efeitos de segunda ordem
Um player novo no Rent a Car?
Por thiagomd_1
Na última sexta-feira, a Localiza (RENT3) soltou um fato relevante informando ao mercado que anda negociando a venda de R$ 3,5 bilhões em ativos para a Ouro Verde (sem capital aberto).
A venda faz parte do desinvestimento em frota do RAC (Rent a Car) e Seminovos da Unidas (LACM3), em respeito ao acordo celebrado com o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), no final do ano passado.
Apesar dos termos, em detalhes, do acordo não terem sido divulgados, as diretrizes são conhecidas e envolvem:
Venda de parte considerável do RAC da Unidas, incluindo veículos e parte dos pontos de atendimento;
Venda de parte das Lojas de Seminovos;
Venda da marca Unidas;
Encerramento do acordo de não concorrência com a Vanguard;
Não realização de outras operações no RAC e no GTF pelo prazo de 3 anos.
Em outras palavras, enquanto a Localiza não der um jeito de cumprir com os pontos acima, a incorporação da Unidas deve continuar suspensa.
A Ouro Verde, por sua vez, é uma gigante do mercado de GTF (Gestão e Terceirização de Frotas), que possui 48 anos de mercado e mais de 35 mil ativos sob gestão. Ela não é tão conhecida do grande público, pois seu foco é no B2B, não tem serviço de RAC e nenhum serviço voltado para o consumidor pessoa física. Mas, parece que isso pode mudar…
Como a gente viu ali em cima, a Unidas tem que vender seu RAC. Não é o RAC completo, mas o mercado espera que seja algo em torno de 50 mil carros, mais boa parte dos pontos de atendimento, das lojas de seminovos e a marca Unidas.
Não faz muito sentido uma locadora especializada em GTF comprar carros usados no RAC e jogá-los no seu GTF. Afinal, comprar carro não é muito difícil pra uma locadora, que consegue preços muito bons em carros novos, direto com as montadoras (apesar da atual crise de semicondutores).
Por isso, a não ser que a Ouro Verde esteja tendo problemas reais para comprar carros novos e renovar frota — o que não deve ser o caso — essa aquisição está com cheiro de novo player no mercado de RAC.
Em outras palavras, pode ser que a Ouro Verde esteja com planos de inaugurar o RAC entre seus serviços e começar a atender o consumidor pessoa física. Até porque faz muito mais sentido comprar carros usados da Unidas, se eles vierem juntos de pontos de atendimento (principalmente em aeroportos) e uma marca amplamente conhecida pelo brasileiro. Seria um jeito de começar com o pé direito no segmento.
Será que vem um novo player por aí, pra concorrer no RAC com Movida e Localiza?
Por enquanto não dá para saber, mas que essa era a intenção do CADE, isso era!
🕵️♂️ Analisando
Desvendando o Modelo de Negócios das empresas
Por @idvalor_fin.
(Quer escrever com a gente também? É só responder esse e-mail ou mandar uma mensagem pro @guilhermevcz).
A corrida do ouro no setor educacional
Qualquer negócio é composto por uma relação de risco vs. retorno. Os empresários investem seu dinheiro esperando recuperá-lo no futuro. Mas, por melhor que seja a empresa e o negócio, sempre existe a chance de dar errado. Em um mercado competitivo, esses dois polos tendem a se equilibrar na maior parte do tempo: quem quer mais retorno, deve assumir maior risco; quem quer menos risco, tem de se contentar com menor retorno.
Existem poucas exceções a regra e se você a encontrar estará diante de uma mina de ouro!
Dito isso, podemos começar a análise...
O Ensino Superior é transformador. São vários os estudos que mostram o impacto que o acesso à universidade tem sobre a produção, riqueza e cultura da sociedade. Embora seja moda dizer que esse ou aquele milionário famoso tenha “largado a faculdade para empreender”, a estatística é implacável: a probabilidade de ter um bom emprego e uma boa renda é bem maior entre os que fizeram curso superior quando comparado aos que não fizeram.
Por essa razão, é desejo de todo o governo (ou melhor, vamos supor que sim) incrementar o número de pessoas que tenha essa oportunidade. O problema, obviamente, esbarra na desigualdade: nem todo mundo tem dinheiro para pagar uma boa escola antes do vestibular ou uma faculdade particular.
Uma forma de combater o problema é o financiamento estudantil subsidiado: o Estado banca o aluno que não pode pagar e, em contrapartida, o aluno assume o compromisso de restituí-lo depois, mediante um prazo e um juro. Essa solução não é novidade no Brasil, que já possuía programas assim desde 1975, pelo menos.
O próprio Fundo de Financiamento Estudantil, o FIES, já existia desde 1999, tendo sido criado no governo de Fernando Henrique Cardoso. Mas aposto que quando eu escrevo “FIES” você se lembra imediatamente de Dilma e o PT, certo?
Isso porque até 2010 o FIES, assim como todos os outros programas anteriores, eram pouco relevantes dentro do Ministério da Educação.
Mas tudo mudou no início do governo Dilma, sob o comando do então Ministro da Educação Fernando Haddad. O ministro tinha uma meta ambiciosa: chegar a 10 milhões de matrículas no ensino superior.
Com a caneta na mão, ele implementou uma série de flexibilizações no FIES:
Os juros caíram de 6,3% para 3,4% ao ano, bem abaixo da inflação no período;
O financiamento poderia ser obtido a qualquer momento do curso (e não apenas em períodos específicos como era feito antes);
O prazo para quitação da dívida, que era de duas vezes o período financiado do curso, passou a ser de três (um estudante que tenha financiado um curso de quatro anos, por exemplo, tem 12 anos para quitar a dívida);
O prazo de carência também foi estendido (as primeiras parcelas do financiamento, que deveriam ser pagas a partir de 12 meses após a conclusão dos estudos, agora poderiam começar a ser quitadas após 18 meses);
A exigência de um fiador foi abandonada com a criação do Fundo de Garantia das Operações de Crédito Educativo (FGEDUC) como garantidor do pagamento.
Para se ter uma ideia do impacto das mudanças, da sua criação até 2010, a despesa anual com o FIES girou em torno de R$1 bilhão para os cofres públicos. Em 2014, no auge do programa, esse valor chegou a R$15,9 bilhões em valores atualizados – mais de 12 vezes o custo anual de 2010.
Lembra do que escrevi sobre a mina de ouro? Depois da canetada, as empresas educacionais passaram a ter um gigantesco impulso na demanda de alunos, aliado a um baixíssimo risco de inadimplência e evasão.
No release do 2T10, a Cogna (COGN3, ex-Kroton) comentou as mudanças: "em maio de 2010, o Ministério da Educação anunciou uma medida provisória, com alterações no FIES, que deverá ter relevante impacto no crescimento do setor. Adicionalmente, o novo FIES terá impactos significativos para a redução da inadimplência e da evasão”.
Imediatamente a Cogna tomou medidas para atrair novos “alunos Fies”:
Criação de uma página exclusiva da Kroton na internet;
Material sobre o FIES para consultores e monitoramento de adesões;
Campanha de outdoors em unidades elegíveis ao FIES;
Campanha de call center ativo e ampla divulgação em unidades elegíveis;
Divulgação por meio de atendentes do sistema de apoio aos alunos;
Divulgação do FIES nas salas de aula;
Contato com alunos com bolsas e inadimplentes para oferecer o FIES;
Criação de uma sala com material de divulgação do FIES em cada unidade;
Acordos com a Caixa Econômica Federal para atendimento presencial nos campi.
A Cogna não foi a única. Praticamente todas as faculdades privadas do país queriam ter o seu quinhão do governo através do Fies.
Estava dada a largada para a corrida do ouro!
No 2T de 2010, a Cogna tinha pouco mais de 8 mil alunos do FIES. No 2T de 2014 já eram quase 110 mil, aproximadamente 60% da base de alunos!
Mas ela não foi a única. A Ser Educacional (SEER3), que tem base no Nordeste, saltou de 28 mil alunos do Fies em 2010 para quase 90 mil em 2014 (51% da base). A Yduqs (antiga Estácio) saiu de 6 mil alunos-Fies para 121 mil nesse mesmo período (38% da base)!
Não foi só a base que cresceu. Na média, as quatro maiores do setor tiveram um crescimento de 328% na receita operacional bruta de 2011 a 2015. A grande campeã foi a Conga (583%), seguida da Ser (400%), Anima - ANIM3 (212%) e Yduqs - YDUQ3 (116%).
Algumas das manchetes dos principais portais econômicos do Brasil em 2013 e 2014 destacavam o brilho da Cogna, na época ainda Kroton:
Kroton é a “bicampeã” do Ibovespa ao subir 64% (Infomoney)
Kroton vence o 'Valor 1000' entre as empresas com melhor desempenho da bolsa de valores brasileira (Valor Econômico)
A receita da Kroton para continuar a queridinha (Época Negócio)
A mina de ouro era tão grande, que alguns garimpeiros começaram a aprender os caminhos das pedras e adotar atalhos para chegar mais rápido!
As pesquisas começaram a mostrar um resultado paradoxal: enquanto o número de alunos pertencentes ao Fies cresceu loucamente, o número de matriculados em faculdades privadas não cresceu na mesma proporção! O número de estudantes no Fies subiu 448% de 2010 a 2013, de 150 mil em 2010 para 827 mil em 2013. O total de alunos na rede privada cresceu 13%, de 3,9 milhões para 4,4 milhões.
Essa discrepância era tão absurda que foi tema de uma série de reportagens do jornal O Estado de São Paulo. Posteriormente elas ganharam o prêmio Exxonmobil de jornalismo, um dos mais importantes e prestigiados da categoria no Brasil.
De acordo com a matéria, o paradoxo acontece porque muitas faculdades passaram a incentivar alunos já matriculados a não pagarem a própria mensalidade, mas a entrar no Fies, que, por sua vez, repassa os valores diretamente para as instituições, sem atraso ou inadimplência. Uma jogada de mestre!
Um exemplo emblemático é o caso da Faculdade Tijucussu, no ABC paulista. Em 2010, havia apenas 27 alunos matriculados, nenhum deles beneficiário do Fies. Em 2013, esse número passou para 1.272 estudantes. De todos, só quatro pagavam suas próprias mensalidades — os demais (só 99,7%) estavam registrados no Fies.
A faculdade teve que fechar as portas em 2018 por não conseguir pagar o aluguel do prédio. Os alunos e professores foram avisados uma semana antes que seriam “removidos” para outra unidade, o que gerou muita revolta.
Outro “causo” que parece mentira, mas não é, foi da Uniesp (União Nacional das Instituições de Ensino Superior Privadas). O Fies se tornou tão importante para o grupo que eles chegaram a assinar convênios com igrejas evangélicas, comprometendo-se a pagar um dízimo aos pastores que conseguissem transformar alguns de seus fiéis em alunos, claro, por meio do Fies! A Uniesp tinha até uma personagem fictícia, a Sílvia Fies, para fazer publicidade e atrair novos estudantes para o programa federal.
Alguns ex-alunos chegaram a processar a faculdade por falsa propaganda de que estudariam “de graça” e não pelo Fies. As denúncias foram alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa de São Paulo em 2011, que apurou também irregularidades trabalhistas envolvendo a instituição.
O problema da corrida do ouro é que um dia ela acaba...
Em setembro de 2014, o Morgan Stanley divulgou um relatório que caiu como uma bomba no setor. Segundo o relatório, havia grande previsão de alta na inadimplência — o que poderia obrigar o uso do Fundo de Garantia das Operações de Crédito Educativo (FGEDUC). A instituição financeira previa que a taxa de inadimplência, que estava em 10% em 2014, poderia passar para 27% em 2017.
“Jamais passa pela nossa cabeça ter 25% de inadimplência no Fies", respondeu no dia seguinte o coordenador geral de suporte ao Fies.
Basicamente o banco estava certo e o coordenador errado. Em 2015, a Controladoria Geral da União (CGU) apurou que quase metade (47%) dos contratos do Fies em fase de pagamento estavam com as mensalidades atrasadas em 2014. O mau momento da economia, aliado à inexistência de fiadores em boa parte dos contratos assinados após 2010, exige que a taxa de inadimplência seja "continuamente monitorada", recomendou a CGU no final do relatório.
Com a crise financeira se consolidando e o impeachment de Dilma Rousseff, as regras do Fies começaram a endurecer e a torneira do dinheiro a secar. As ações das empresas educacionais começaram a despencar.
O release do 4T de 2014 da Yduqs deu o tom da preocupação em torno do tema:
O segundo problema da corrida do ouro é que quando ela acaba sobram só as picaretas!
O gráfico abaixo mostra o tombo das maiores empresas do setor listadas na época. Parece que houve uma pandemia, mas não, foram as mudanças do Fies mesmo…
Que lições podemos tirar dessa história toda?
Muito cuidado com o poder da caneta. Ao avaliar uma empresa, mesmo empresas que não sejam públicas, entenda qual a sua exposição aos interesses políticos. O setor está sujeito a ter alterações caso haja troca de governos?
O benefício de hoje pode ser a dor de cabeça de amanhã. Entenda se a empresa que você está estudando depende de algum benefício público. Se sim, tente imaginar qual seria o impacto caso esse benéfico acabasse. A empresa sobreviveria? Em quais condições? Ela estaria preparada para lidar com isso?
Na bolsa de valores, nem todo amor é para sempre. A Cogna é um exemplo de como empresas que já foram queridinhas do mercado podem dar dor de cabeça se não forem bem monitoradas. Jamais compre uma ação só porque ela está na moda ou é de um setor “quente”. E não se esqueça que buy and hold é buy and HOLD e não buy and FORGET.
*Assim como o primeiro gráfico, parte das informações apresentadas ao longo desse texto foram baseadas no livro “O Negócio da Educação: a aventura das universidades privadas na terra do capitalismo sem risco”, que pode ser acessado gratuitamente aqui.*
🍷 Sommelier
Consumimos de tudo. Trazemos o que importa
📚 Livros
A psicologia financeira: lições atemporais sobre fortuna, ganância e felicidade
Por thiagomd_1
As eras glaciais, que submeteram o planeta Terra a longos períodos de puro gelo, foram causadas por verões mais frescos.
Apesar de contraintuitiva, é essa a hipótese aceita como correta pela Ciência, hoje em dia. É só pensar que a Terra passou por vários períodos de gelo e degelo, naturais das mudanças de estações, conforme ela passava do verão ao inverno, ano após ano.
Assim, o gelo criado no inverno era derretido no verão e o ciclo se repetia e se repete até hoje.
O que acontece é que a ação gravitacional exercida pelo Sol e pela Lua, na Terra, afetam a inclinação do planeta em direção a esses astros. A mudança de inclinação, por sua vez, faz com que em determinados períodos, haja menos incidência de calor por aqui. Logo, durante esses períodos de menor incidência de calor, menos camadas de gelo, criadas no inverno, foram derretidas.
Em outras palavras, a repetição, ano após ano, de verões mais frescos, favoreceu o acúmulo de camadas de gelo cada vez maiores, a cada inverno, que culminaram nas conhecidas eras glaciais da história do planeta.
Não foram grandes mudanças climáticas repentinas ou invernos extremamente rigorosos que causaram as famosas eras glaciais. Mas sim uma pequena mudança climática, cuja repetição acumulada por centenas de anos resfriou por completo o planeta.
É a partir dessa história que Morgan Housel, em seu excelente livro, A Psicologia Financeira, tenta explicar para o leitor a importância dos juros compostos e do tempo.
Com uma linguagem simples, sem encher as páginas de números e sem a pretensão de ensinar metodologias de investimento ao leitor, Housel busca frisar conceitos importantes sobre finanças. Seja sobre a importâncias dos juros compostos, seja sobre a volatilidade dos mercados de renda variável, ou sobre a importância de poupar.
É um excelente livro para se ler se você estiver começando sua jornada como investidor. E ao mesmo tempo é muito útil, mesmo que você já seja experiente, nem que seja para te ajudar a manter o foco.
Valuation (freestyle) do livro:
Nota: 8
Grau de dificuldade: básica
⏳ Atemporalidades
Leia agora, leve pra vida.
Quanto mais você tenta entregar — construindo, criando, encorajando — mais você ganha.
Quanto mais você tenta tomar — destruindo, consumindo, desencorajando — menos você ganha.
Simples. — Ascendant Power
Por hoje é só pessoal 🤙
Bebam café, se hidratem e coloquem em prática suas leituras!
Boa semana e bons negócios!
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Editado por @guilhermevcz.