Stranger Businesses e Quando a cura vira veneno
E mais: a suprema forma de arte, um fato básico de biologia e modelos mentais.
☕ Expresso de Notícias
Curto e sem açúcar.
Saúde
Ao contrário da grande maioria dos bens que compramos, os medicamentos têm seu preço controlado no Brasil. Funciona da seguinte maneira: anualmente, um órgão do governo chamado CMED autoriza um reajuste de preços no início de Abril. Esse aumento nos preços geralmente fica próximo da inflação e afeta simultaneamente o Preço Fábrica (Indústria → Varejo) e o Preço Máximo ao Consumidor (Varejo → Consumidor).
Para a indústria, o reajuste é essencial para recompor as margens, já que os seus insumos ficam mais caros com o passar do tempo. Já para as farmácias, o reajuste causa um efeito bem interessante: elas compram muito estoque durante o primeiro trimestre pelo preço antigo e vão vendendo pelo preço novo durante o segundo trimestre. Com isso, o segundo trimestre gera a maior margem bruta do ano para o varejista.
No fim de Março, a CMED divulgou reajustes acima da inflação para os remédios. As indústrias respiraram aliviadas pois o custo das matérias-primas, geralmente importadas, disparou por causa da escalada do dólar em 2020. Já as redes de farmácias devem estar em festa pois vão ter margens caprichadas nos resultados do 2º Tri, talvez até com impacto no 3º Tri.
Até aí tudo certo, mas você tem que se lembrar que estamos no Brasil. O Senado aprovou um projeto de lei que suspende o reajuste de preços de medicamentos em 2021. Como a maioria das medidas populistas, a intenção é nobre: diminuir os preços dos remédios em um momento em que o país vive uma tragédia sanitária e uma grave crise econômica. O problema é que — como todas as medidas populistas — o que parece ser a cura acaba virando veneno. Se essa canetada passar na Câmara, há uma boa chance de vermos escassez de remédios e baixo interesse das gigantes farmacêuticas de lançar seus novos medicamentos por aqui.
Indústria/Tech
Stranger Businesses: O valuation de “polvos” (ou Conglomerados 101)
A Índia tem mais de 1,3 bilhão de habitantes, mas só pouco mais da metade dessa galera tem celulares. Repare que não dissemos smartphones, porque o que mais tem lá são os dumb phones ou feature phones, aparelhos com aquela cara do saudoso tijolão, contando com um ou outro recurso a mais.
O Google, que não é bobo nem nada, sabe que essa gente toda é uma oportunidade sem igual de negócio. População por população, Índia e China já passaram de 1,3 bi de pessoas, e apesar da China ganhar a disputa por alguns milhões, o país começou a desacelerar nesse quesito. Há quem diga que a Índia vai assumir o posto de país mais populoso até 2024. Mas o grande diferencial é que, enquanto na China as Big Techs encontram a porta fechada, a Índia está de braços abertos pra recebê-los — é só uma questão de show me the money. 🤑
É aqui que entra a Reliance, um conglomerado gigantesco e muito conectado, que é a maior empresa da Índia. Ela atua no setor petroquímico, na indústria têxtil, no varejo (de moda, de supermercados, farmacêutico e de eletrônicos), em mídia & entretenimento e em serviços digitais.
A história da Reliance é interessante por si só — depois de várias brigas entre os donos do conglomerado, dois irmãos, um entrou na lista dos 10 homens mais ricos do mundo, já o outro saiu falido — mas como essa não é uma seção “Quem está por trás do sucesso da empresa” de um de nossos relatórios, não vamos nos prolongar nesse ponto (de qualquer forma, pra quem gosta de um quebra-pau, aqui está o link 😂).
O importante é darmos uma olhada no segmento de serviços digitais que, apesar de ser o terceiro segmento em faturamento da empresa, é onde se esconde uma pérola: a subsidiária Jio Platforms. Nos últimos anos, a companhia aproveitou que o mercado de telecomunicações começava a ser liberado no país e instaurou uma guerra de preços local. Hoje, a Índia tem os dados mais baratos e o maior consumo de dados por usuário do planeta. E sim, quem se sagrou vencedor até agora foi a Jio, com mais de 426 milhões de clientes — praticamente o dobro da população brasileira. O impacto da empresa em levar Internet para tantas pessoas foi tão grande que ele ficou conhecido como “Jio Effect”.
Parte disso só foi possível por conta do Jiophone, um celular 4G de 30 dólares, rodando KaiOS.
O KaiOS é o terceiro sistema operacional para celulares mais usado no mundo — R.I.P, Windows Phone, sabemos que você não teve vida fácil ⚰️ — e o segundo na Índia, desbancando o iOS. (No Brasil, Positivo e Multilaser lançaram aparelhos com esse SO). Apesar do Google ser também um dos investidores do KaiOS, e dominar mais de 70% de market-share com o Android no país, o apetite da empresa ainda não foi saciado.
Depois de investir 4,5 bilhões de dólares na Jio ano passado, Google e Jio anunciaram na última semana o lançamento de um novo aparelho que — contando agora com todo o ecossistema Android — já dá pra chamar de smartphone: o JioPhone Next.
De bate pronto, o principal objetivo do lançamento é converter mais de 300 milhões de indianos que ainda usam rede 2G a mudarem para o 4G, mas sem descartar a possibilidade de exportar o aparelho no futuro.
Disso tudo, quem acaba ficando cada vez melhor na foto é a Reliance. Sendo não só a maior varejista do país, mas também a dona da maior operadora móvel, a empresa está mais do que preparada para capturar, de ponta a ponta, valor em toda a jornada do cliente. Fornecer desde o celular e a rede de dados, até o produto final (sejam roupas, medicamentos ou comida), além, claro, de todo o meio de pagamentos, logística e mídia envolvidos, parece bom demais pra ser verdade, não é?
Mas não é só porque a empresa parece estar às mil maravilhas que ela mereça um investimento agora. Uma dúvida que precisamos responder é: será que todo o potencial da companhia já está refletido em sua cotação? É por essas e outras que o Valuation se torna uma ferramenta primordial. Só que, como você deve imaginar, fazer o Valuation de uma companhia como a Reliance não é tarefa das mais fáceis. Nem mesmo pro guru Mr. Damodaran. Em seu livro, The Dark Side of Valuation, e nesse artigo aqui, ele chama essas empresas de octopus 🐙 e diz:
“Essas empresas multi-negócios, espalhadas geograficamente, são difíceis de avaliar porque elas representam vários negócios, agrupados e vendidos como um único pacote”.
Os nomes mais emblemáticos dessa categoria talvez sejam a General Electric e a Siemens, mas empresas assim não estão tão longe de nossa realidade. Aqui no Brasil temos a queridinha WEG, que também tem tentáculos capturando diferentes mercados. (Além dos motores — produto carro-chefe da empresa — e váriooos componentes eletroeletrônicos, ela também produz tintas, tomadas e até softwares, só pra citar os mais descorrelacionados; além de ter fábricas em 12 países e mais de 50% do faturamento vir do exterior. Teremos um Valuation Box sobre ela!)
Independente do tipo de empresa que você vá analisar, existe um método que se aplica a todas elas: o GRAHD. É ele que usamos aqui no Edufinance e é um dos conceitos mais importantes que vamos apresentar nas aulas do nosso Bootcamp Análise de Ações. Pra não perder, é só se inscrever por aqui:
Corre que começa amanhã!
🍷 Sommelier
Consumimos de tudo. Trazemos o que importa.
🎙 Podcasts
📰 Artigos
Michael Dempsey é sócio da Compound, um fundo de venture capital voltado pra tecnologia de ponta: estamos falando de robótica, machine learning, biologia computacional, blockchain e afins.
Só que Michael passou 2 anos pesquisando algo que, à primeira vista, pode não parecer tão revolucionário assim: animação. 🤔
O resultado do estudo foi o artigo Animation Is Eating The World. Não se trata apenas de um texto muito bem escrito, com uma ideia que foge do consenso, mas também de uma das páginas com o visual mais bacana de toda a Internet.
Animation is the highest form of art because it involves nearly every creative process and discipline to create a final product.
📜 Cartas dos Gestores
Na próxima segunda-feira, 5 de julho, Jeff Bezos vai deixar o posto de CEO da Amazon.
Ao que tudo indica, ele vai passar a se dedicar mais às suas empresas de 🚀 e 📰, além de continuar como Presidente do Conselho de Administração – ou Chairman, melhor dizendo – da companhia. Mas não é exatamente sobre isso que viemos falar.
Como manda a tradição, seguida à risca desde 1997, Bezos publicou no dia 15 de abril mais uma de suas Cartas Anuais aos Acionistas. Essa, entretanto, foi a última dele (ou pelo menos a última dele como CEO).
Ao contrário do que você talvez espere, ele não gasta muito tempo falando sobre a história da empresa ao longo de todos os anos sob seu comando. Bezos faz apenas alguns comentários sobre os resultados de 2020 e fala mais do futuro: cita o plano da empresa de se tornar carbono neutro em 2040 (e da encomenda de 100.000 veículos elétricos pra ajudar nisso) e das metas – com os pomposos títulos – de ser o Melhor Empregador da Terra e o Local de Trabalho Mais Seguro da Terra.
Mas o bom mesmo ficou pro final. A lição que ele escolheu como última e da “mais extrema importância” é sobre o que ele diz ser um fato básico da biologia: "Diferenciação é sobrevivência e o universo quer que você seja 'normal'".
💡 Vowtzwit
Making fintwit great again.

Por hoje é só pessoal 🤙
Bebam café, se hidratem e muito cuidado com a pandemia!
Boa semana a todos e bons negócios!