Depois dos Reclames do Plim Plim
Conexão Amazônica. Um coringa na manga de Bezos? Como Mentir com Estatística. Com 2 notas, qual é a música? Seu principal objeto de atenção.
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Depois dos Reclames do Plim Plim
Em 1971, o lendário diretor da Rede Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, pediu para que Mauro Borja Lopes criasse uma vinheta sonora. A ideia era que ela marcasse para as pessoas, só pelo som, o começo e o fim dos intervalos comerciais.
Essa foi a criação de uma das onomatopeias mais famosas da cultura popular brasileira: o PLIM PLIM (só de ler isso, já deve ter vindo o som na sua cabeça, não?).
Os reclames do plim plim, como eram chamados os intervalos comerciais pelo glorioso Fausto Silva (filho da dona Cordélia, galera!), no antigo Domingão do Faustão, se tornaram sinônimo das interrupções destruidoras de valor dos telespectadores, já que ninguém gosta que seu filme/série/programa seja interrompido em uma parte legal para saber o preço de uma geladeira.
Assim, há algumas boas décadas, a tecnologia e a publicidade quebram a cabeça para que essa destruição de valor se torne um negócio.
Uma das primeiras tentativas foi a implantação dos eventos pay-per-view. Era só pagar pelo evento (geralmente esportivo), à parte de seu plano de TV a Cabo, pra ficar livre das propagandas e garantir zero interrupções. Essa solução começou nos anos 60 e 70, com as grandes lutas de boxe e até hoje existe nesse segmento (verdade seja dita, os VTs nunca têm a mesma emoção do ao vivo).
Algumas décadas depois, foi a vez de tentarem um produto chamado TiVo, um gravador de DVD lançado em 1999. Dentre suas várias funcionalidades, ele permitia ao usuário pular os intervalos comerciais de seus programas gravados. Isso foi uma mega inovação na época, que fez um sucesso razoável na primeira década do novo milênio, principalmente nos EUA, apesar de ter chegado em alguns países da Europa e no resto da América do Norte.
Uma história da cultura pop, é que no filme Trovão Tropical (2008), o personagem interpretado por Ben Stiller exige a seu empresário, interpretado por Matthew McConaughey, ter um TiVo em seu camarim durante as filmagens no meio da selva. Não vou dar spoiler, mas dá para ver pela imagem abaixo que o TiVo e o empresário conseguem chegar no suposto e fictício sudeste asiático😂.
Por último, mas talvez a solução mais importante, os serviços de streaming causaram uma revolução na forma como o público costumava lidar com sua TV e com as locadoras de filmes. O serviço foi tão disruptivo que grandes empresas simplesmente acabaram: alguém lembra da Blockbuster?
Neste tipo de serviço, você paga uma assinatura e pode ter acesso ilimitado a todo catálogo da plataforma que você assinou, sem interrupções ou informações indesejadas aparecendo na tela (salvo casos de conexão ruins ou cenas constrangedoras de filmes/séries 🤷♀️). Sem sombra de dúvida, a Netflix (NFLX34) é o primeiro nome que vem à cabeça de qualquer um que pense em streaming de séries e filmes. Mas com o sucesso dela, que no início navegava em um oceano tão azul como o mar de Arraial do Cabo, outras plataformas foram surgindo, tais como: Amazon Prime Video (AMZO34), Apple+ (AAPL34), Hulu, Disney+ (DISB34) e outras mais. O oceano que era azul, ficou vermelho com tanta competitividade, e cada player trouxe seus diferenciais de conteúdo e preço, como manda o manual de economia.
Por conta da alta concorrência — mas sob o pretexto do compartilhamento indevido de contas entre usuários — a Netflix reportou uma perda de 200 mil assinantes no primeiro trimestre de 2021. A expectativa do mercado era totalmente oposta, afinal se esperava que a empresa ganhasse 2,5 MILHÕES de assinantes nesse mesmo período. Fato é que isso causou um verdadeiro banzé nos mercados e o preço das ações do N vermelho chegaram a cair 25% em único dia, após a notícia bombástica. Por conta dessa crise, surgiu um papo de que seria lançada uma assinatura mais barata, com inclusão de propagandas... Simplesmente assim, voltamos aos reclames do plim plim. É disrupção que fala?
E não pense que é somente a vermelhinha que está com essa ideia! A Disney+ já decidiu que irá lançar uma assinatura mais barata com propagandas, e já estipulou que devem ocorrer 4 minutos de pausas comerciais a cada hora. Ou seja, pode ser que vejamos um surgimento de um “novo produto”: entretenimento sob demanda com intervalos comerciais (contém ironia).
Querendo ou não, o capitalismo é competitivo e a concorrência faz o mercado se mexer pra encontrar novas soluções (mesmo que sejam velhas). A nós, nos resta apenas aguardar as cenas dos próximos capítulos…
Conexão Amazônica
Na última sexta-feira, o Brasil recebeu a visita de Elon Musk. O objetivo da vinda inusitada do homem mais rico do planeta foi acertar o uso da Starlink para fornecer internet de alta velocidade para 19 mil escolas localizadas em áreas rurais do estado do Amazonas.
Pra quem não conhece, a Starlink é uma iniciativa da SpaceX — empresa de foguetes do bilionário — que busca criar uma rede global de internet de banda larga, fornecida por satélites. Mas não estamos falando de qualquer tipo de satélite. Tratam-se de satélites de baixa órbita, circundando a Terra a 550 km de distância. Comparativamente, satélites normais costumam orbitar a Terra a 35 mil km de distância.
A vantagem da “baixa” altura, é o ganho de velocidade, cujos acessos podem ir de 100 até 200 Mbps (megabits por segundo), enquanto empresas de satélites tradicionais têm velocidade na casa dos 20. Além disso, a proximidade com a Terra torna mais fácil sua destruição, já que facilita a desintegração pela reentrada na atmosfera, caso ele fique inútil com o tempo de uso.
Se você for fã de jogos online, como Counter Strike, deve saber o que é latência, certo? Se não souber, latência é o tempo que leva pra um pacote de dados sair de sua máquina local até conseguir uma resposta do servidor no destino. Quanto menor esse tempo, melhor!
Lembra quando você atirava no amiguinho no CS, mas de alguma forma a bala dele sempre chegava antes da sua? Um dos motivos podia ser a alta latência. Com a Starlink, a SpaceX promete uma internet de baixa latência, capaz de diminuir esses lags e te ajudar a não morrer tanto no jogo. Brincadeiras à parte, a promessa é oferecer uma latência bem baixa, por volta de até 20 ms (milissegundos), comparável às conexões cabeadas.
Tudo que é preciso pra Starlink funcionar é um kit com uma antena, uma base, um roteador wi-fi e alguns cabos. Regiões rurais e de difícil acesso, sem cabeamento por fibra óptica, como a região Amazônica, são lugares ideais, até porque o preço ainda é salgadinho: o equipamento custa R$ 3.000 e a mensalidade R$ 530.
Se você está curioso com o serviço, saiba que desde fevereiro ele já está disponível aqui no país, para a maior parte dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
Ainda não se sabe os detalhes do acordo feito pelo Governo Federal com a SpaceX, mas além das conexões de internet para as escolas da Amazônia, ao que parece, eles querem utilizar a rede para auxiliar no controle de incêndios e desmatamento da floresta. Atualmente, quem faz esse serviço de monitoramento é o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
A ideia é excelente, principalmente se usada para levar conexão a áreas remotas, desconectadas. Se ela vai funcionar ou não, só o tempo dirá.
🕵️♂️ Analisando
Desvendando o Modelo de Negócios das empresas
Amazon Web Services: um coringa na manga de Bezos?
Caso você seja um bom observador e conheça as operações da Amazon deve ter percebido que “esquecemos” de falar da AWS na semana passada. Falar do ecossistema da Amazon e não falar da Amazon Web Services, é que nem falarmos de futebol, mas esquecermos do Pelé 😂. O que acontece é que esse tal de AWS é tão incrível que ele merece um tópico no Diário de Omaha só pra ele.
Para entendermos de onde veio sua ideia, precisamos voltar lá para 1994. Naquele ano, Jeff Bezos tinha acabado de largar seu confortável e bem remunerado emprego em Wall Street para se aventurar no pouco explorado mercado digital. Segundo ele, aquele mercado apresentava uma grande oportunidade de empreendimento. E não é que ele estava certo?
O empreendimento de Bezos, que tinha começado como uma pequena loja digital de livros, tomou proporções que nem o maior dos otimistas apostaria. Mas, como Tio Ben já havia alertado o jovem Peter Parker, “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades.”
Todo esse crescimento fez com que a empresa demandasse uma estrutura de TI gigantesca, com milhares de servidores espalhados ao redor de todo o mundo. Pra resolver esse problema, Bezos se viu diante de duas opções: gastar uma grana contratando mais funcionários pra cuidar desses data centers ou automatizar tudo o que fosse possível. Nem preciso dizer que ele escolheu a segunda alternativa. Depois de muita pesquisa, surgiu o que conhecemos hoje como AWS.
Em 2006, Bezos descobriu que várias outras empresas também passavam por esses mesmos problemas. Como um bom empreendedor, percebeu que poderia ganhar uma grana com esse negócio e então, tornou a Amazon Web Services um “produto” do ecossistema Amazon.
Dentro dessa plataforma na nuvem, existem mais de 165 serviços completos, além de outros 40 recursos adicionais que só são encontrados na plataforma. Mas pera lá, o que é essa “plataforma de nuvem”? Resumidamente, é uma tecnologia que permite que o usuário acesse diversos serviços online, mas sem precisar que o programa seja baixado no seu computador. Basicamente, é só ter internet. Sabe o Google Drive e o DropBox? Eles são uma plataforma na nuvem. A nuvem é um nome bonitinho para os servidores da AWS, que fazem todo o serviço de armazenamento que você não precisa fazer.
Podemos dividir essas plataformas em três principais categorias:
SaaS - Software como Serviço;
PaaS - Plataforma como Serviço;
IaaS - Infraestrutura como Serviço.
Sabe quando você entra no e-mail e dá uma olhada na caixa de entrada? Você apenas está fazendo o uso do que tem dentro da aplicação (nesse caso, receber e enviar mensagens por e-mail), sem poder alterar absolutamente nada da base do aplicativo. O e-mail é um tipo de SaaS. O software fica hospedado no servidor do criador, que fica responsável por administrar tudo o que tem lá dentro. O usuário, por sua vez, utiliza o que for configurado na nuvem, sem poder alterar, remover ou adicionar nenhum elemento.
Ao contrário do SaaS, no PaaS o usuário recebe uma plataforma completa, permitindo que o ele configure, altere alguns elementos do software e até instale outros aplicativos na plataforma. Eu sei, eu sei… ficou meio confuso de entender, mas com um exemplo, todas as peças vão se encaixar.
Pensem no WhatsApp. Embora o aplicativo seja executado em um celular, ele precisa se conectar a servidores na nuvem a cada novo acesso, caso contrário, você não conseguiria sequer trocar mensagens com sua família, por exemplo. Esses servidores na nuvem, são o que chamamos de PaaS, um sistema focado exclusivamente no desenvolvimento de aplicações. Nele, os provedores fornecem todos os recursos que o desenvolvedor precisa para desenvolver, implementar e administrar suas “engenhocas”. Como um exemplo de PaaS, temos o Google App Engine, uma plataforma voltada para o desenvolvimento e hospedagem de aplicações na nuvem.
Por último, mas não menos importante, temos o IaaS, o mais procurado pelas empresas. Nele, é como se um provedor que tem MUITO espaço na nuvem, emprestasse um pouquinho da sua infraestrutura para as empresas tocarem seu próprio negócio. Dentro do IaaS, são oferecidos recursos como processamento, memória e até mesmo armazenamento.
Quando juntamos esses três conceitos, temos a obra final. Na base, fica o IaaS, que é o responsável por manter tudo funcionando com a arquitetura de rede. Logo depois, vem o PaaS, a área onde atuam os desenvolvedores de aplicações. Pra finalizar, no topo, temos o SaaS, local em que os usuários finais fazem o uso das aplicações.
Agora deu pra entender o porquê do AWS ter um tópico só pra ele, certo? A ideia de tornar a AWS um produto, foi um tiro certeiro do Bezos. Hoje, 22 anos depois da sua criação, ela se tornou um dos principais produtos da Amazon. Só em 2022, a empresa faturou quase US$ 62 bilhões com ela, o que dá quase 15% de sua Receita total! 😵
Pra finalizar, deixo um questionamento pra vocês. A AWS poderá, no futuro, deixar as operações de varejo da Amazon comendo poeira?
🍷 Sommelier
Consumimos de tudo. Trazemos o que importa
📚 Livros
Eu sei, eu sei… logo que você viu o título desse livro deve ter pensado: “o que é que esses malucos da Edufinance tão querendo me indicar?” Na verdade, a obra vai totalmente no caminho contrário do que o seu título sugere.
Publicado pela primeira vez em 1954, pelo escritor e jornalista Darrell Huff, o livro foi um marco importante da segunda metade do século XX. O sucesso dele ainda hoje é tão grande que até o Bill Gates comentou sobre a obra, em suas próprias palavras: “mais relevante que nunca”.
Mas o que é que um simples livro de estatística tem de tão especial para ter feito todo esse sucesso?
Ao contrário da maioria dos livros de estatística, que são repletos de números e mais números, a obra de Durrell conta com uma linguagem simples e divertida sobre como o mau uso da estatística pode maquiar dados e manipular a opinião popular.
Um livro atemporal, que mesmo depois de 67 anos do seu lançamento, continua extremamente atual.
O grande problema deste livro é que ele não é lá tão fácil de ser encontrado, mas se você tiver um Kindle, pode comprá-lo na Amazon por menos de R$ 25 . Caso você seja um daqueles colecionadores que não trocam por nada o cheirinho de livro novo, é melhor preparar o bolso, porque ele custa uma grana pesada.
Valuation freestyle do livro:
Nota: 9/10
Grau de dificuldade: básico
📜 Cartas dos Gestores
Quase tão saudosista quanto nosso texto sobre os “Reclames do Plim Plim”, a última carta — ou resenha, melhor dizendo — da Trígono toma inspiração no lendário quadro “Qual é a Música” do programa do Silvio Santos.
Um dos principais quadros do “Qual é a Música” era o “Leilão das Notas Musicais”: Silvio dava uma dica ao artista e este precisava descobrir o nome da música. Como apoio, podia pedir entre uma e sete notas da música – e o apresentador então enunciava o bordão: “Maestro Zezinho, com X notas, qual é a música?”. No atual cenário das finanças e decisões de investimentos, para saber o nome da música, são necessárias duas notas:
1) Aumento das taxas de juros e 2) Inflação.
Ao longo da resenha, a gestora se debruça sobre o motivo pelo qual os países emergentes se saíram melhor do que os desenvolvidos nas crises de 2008/2009 e na de 2020: a produção de commodities.
O Brasil, como grande exportador de alimentos e petróleo, no meio de todo o caos da economia mundial, pode despontar como uma grande oportunidade de investimento. Mas, claro, é preciso saber pra onde olhar. E aí, a gestora dá a letra:
Diante de todo esse cenário, nossa estratégia permanece a mesma: se não pode derrotar o inimigo (inflação), associe-se a ele – ou seja: invista nos agentes da inflação.
E quem são estes? Commodities, alimentos, energia — e nas empresas que atuam nestes segmentos — e nas cadeias de produção. E especialmente empresas que conseguem repassar seus custos devido a condições extraordinárias próprias – ou são líderes em nichos de mercado ou produzem itens para os quais não há substitutos ou estão bem posicionadas para se adequar ao movimento atual de regionalização da produção (diminuindo a exposição a custos logísticos cada vez maiores e a dependência da China).
Em breve, no VBox, você verá uma empresa que é uma das grandes posições da Trígono, cumprindo com os da requisitos da gestora, em especial, por ser a líder mundial em seu nicho de mercado. Fique de 👀!
⏳ Atemporalidades
Leia agora, leve pra vida.
Já que seu sucesso depende das pessoas com quem você trabalha e para quem você trabalha, faça do caráter delas seu principal objeto de atenção. — Robert Greene
O foco é determinado pelo que você ignora. — Visualize Value
Por hoje é só pessoal 🤙
Bebam café, se hidratem e reflitam sobre o estágio atual do aperto de juros.
Boa semana e bons negócios!
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